Filho do deputado Carlos Gaguim é citado em inquérito que apura venda de sentenças no Judiciário do Tocantins

23 janeiro 2025 às 18h30

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O empresário Bruno Otávio Carrijo Silva Tomazini Amorim, um dos filhos do deputado federal Carlos Gaguim (UB), é citado no primeiro relatório do inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga um dos 14 esquemas de venda de sentenças no Judiciário do Tocantins. O documento que o Jornal Opção Tocantins teve acesso é assinado pelo delegado Daniel César do Vale.
O caso envolve a Ore Mineradora, empresa de mineração que é suspeita de pagar propina ao Poder Judiciário do Tocantins para continuar extraindo minério sem concessão. No esquema, uma organização criminosa teria supostamente manipulado contratos, usado documentos falsos e influenciado órgãos como o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) para obter vantagens indevidas.
Conforme o inquérito, o advogado Daniel Vaz supostamente ajustava contratos para ocultar indícios de tráfico de influência, elaborava documentos para favorecer a mineradora e organizava repasses financeiros de até R$ 250 mil para sustentar o esquema. Ele também supostamente acionava contatos estratégicos em órgãos reguladores para garantir os interesses da Ore Mineradora, mesmo enfrentando barreiras legais.
Nesse mesmo inquérito, a PF indiciou Thales André Pereira Maia, filho do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto; Paulane Brilhante de Macedo Maia, esposa de Thales; o advogado Daniel Almeida Vaz e sua esposa Hanoara Martins de Souza Vaz, também advogada; José Alexandre Silva, empresário da Ore Mineradora; o advogado Thiago Sulino de Castro e o irmão dele, Isaac Fernandes de Castro; e Renato Jayme da Silva, presidente do Naturatins. Os crimes atribuídos aos indiciados incluem: corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.
Em relação a Bruno Otávio, apesar de não ter sido indiciado, a PF constatou que ele tinha interesse nas decisões judiciais da Ore Mineradora, empresa de José Alexandre Silva. Consta no inquérito uma mensagem em que Bruno informava o resultado de uma liminar da Ore Mineradora a Daniel, antes mesmo de a Justiça do Tocantins decidir sobre a questão.



Isto é, conforme a PF, o filho de Gaguim teria recebido informações privilegiadas sobre decisões antes de sua publicação oficial e atuado, ainda, como uma espécie de “interposta pessoa” para ocultar bens ou intermediar interesses entre Daniel Almeida Vaz e outros participantes do esquema.

No inquérito, a PF diz que não foi possível identificar uma ligação entre o deputado federal Carlos Gaguim e seu filho nos atos de corrupção investigados. Para a PF, os elementos coletados no inquérito não indicam a prática de crime por parte do deputado. No entanto, afirma que um possível aprofundamento ou decisão sobre declínio de foro será determinado pelo relator do caso. A autoridade policial reforçou que essas informações fazem parte de apenas um dos casos do inquérito e poderão ser avaliadas junto aos demais elementos de prova.
Bruno Otávio tem 39 anos e nasceu em Uberlândia (MG). Ele foi candidato a deputado estadual em 2014, quando era filiado ao MDB, mas acabou renunciando. Em 2018, já no Patriota, protocolou o registro para deputado federal, mas renunciou outra vez. Ele é empresário e declarou patrimônio de quase R$ 1,8 milhão no último pleito, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral.
Em 2021, Bruno Otávio obteve três alvarás de pesquisa de mineração pela ANM, com validade de três anos. Em 2023, durante a fase de autorização de pesquisa, ele cedeu totalmente os direitos desses alvarás para a BMZ Minerals Ltda (CNPJ 43.278.210/0001-59). As cessões foram formalizadas com os alvarás de números 3354/2023 e 3353/2023.
Outro lado
Por ligação ao Jornal Opção Tocantins, o deputado Carlos Gaguim disse que não é responsável pelo que os filhos maiores de idade fazem ou deixam de fazer, mas que acredita que o filho nada tem a ver com o caso.
À reportagem, Bruno Otávio disse que, por não ter sido chamado para depor, não irá se posicionar sobre o caso.
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