PMs e guarda metropolitano são investigados por suspeita de forjar troca de tiros para encobrir assassinato em Palmas

15 outubro 2024 às 09h45

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A Polícia Civil do Tocantins cumpre, nesta terça-feira, 15, mandados de busca e apreensão contra cinco policiais da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) e um agente da Guarda Metropolitana de Palmas. Eles são investigados por envolvimento em um homicídio ocorrido em junho de 2024, no bairro Aureny III, na região sul da capital.
Segundo a investigação, o grupo é suspeito de forjar uma troca de tiros para encobrir a execução de Jaimeson Alves da Rocha, de 35 anos. De acordo com as apurações preliminares, os policiais suspeitos teriam plantado uma arma próxima à vítima para simular um confronto armado. Ao todo, 14 mandados de busca e apreensão são cumpridos.
“Ritual de batismo” e o envolvimento de novatos
O inquérito aponta indícios de que dois dos policiais militares investigados, que ingressaram na corporação em 2022, participaram do crime como parte de um “ritual de batismo” da Rotam. Segundo as investigações, esses novatos teriam sido submetidos a situações de confronto armado como prova de integração na equipe tática.
O crime
O homicídio ocorreu na manhã de 18 de junho de 2024, em uma oficina mecânica na Avenida Goiás, no bairro Aureny III. Jaimeson Alves havia parado no local para realizar o conserto de sua moto, quando foi abordado pelos policiais. Seis disparos foram efetuados, sendo que três tiros atingiram Jaimeson, levando-o à morte no local.
De acordo com a Polícia Civil, o crime pode ter sido motivado por um episódio anterior, em novembro de 2023, quando Jaimeson teria se envolvido em uma briga com militares e foi baleado na ocasião. Desde então, ele vinha sendo monitorado por um PM da inteligência do Batalhão de Choque e pelo guarda municipal, que utilizava o sistema de câmeras da prefeitura para acompanhar a rotina da vítima e fornecer informações aos policiais.
Defesa dos investigados
Os policiais envolvidos alegaram que Jaimeson teria reagido à abordagem, sacando uma arma e disparando contra a equipe, o que teria motivado a resposta dos agentes. Mesmo após ser alvejado, Jaimeson teria continuado a tentar acionar a arma, o que, segundo os policiais, justificou a ação de desarmá-lo no local.
Provas e andamento das investigações
A Polícia Civil afirma que laudos periciais, imagens de câmeras de segurança e depoimentos colhidos confirmam a materialidade do homicídio. A Justiça avaliou que as evidências apresentadas apontam para uma possível execução.
O caso segue em investigação, e novas diligências devem ser realizadas para esclarecer o envolvimento dos investigados.
- Cena do crime manipulada: O laudo pericial revelou que a vítima foi atingida por três disparos — dois no tórax e um no ombro. A sequência de tiros foi dividida em dois blocos distintos, sugerindo que o primeiro grupo de disparos vitimou Jaimeson e o segundo foi realizado com o intuito de plantar provas que indicassem um confronto. Um revólver foi fraudulento e posteriormente colocado na cena, com o DNA de Jaimeson sendo transferido de forma forçada para a arma após sua morte.
- Monitoramento prévio da vítima: As investigações mostraram que Jaimeson estava sendo monitorado há pelo menos nove dias antes do crime, com o auxílio do agente da Guarda Metropolitana. O número da placa da motocicleta da vítima foi utilizado para acompanhar sua rotina e localização. A investigação também revelou que houve tentativas de localizar Jaimeson por meio de investidas na casa de parentes.
Confronto anterior e possível motivação
Jaimeson já havia se envolvido em uma situação de confronto com a Polícia Militar no final de 2023. Em dezembro, durante uma abordagem, ele agrediu um policial, o que resultou em um confronto físico e na necessidade de disparos na região pélvica da vítima. Esse incidente gerou repercussão nas redes sociais e veículos de imprensa, agravando a animosidade entre a vítima e os policiais envolvidos.
Monitoramento e participação coordenada
Durante a execução, os policiais da inteligência e da Guarda Metropolitana estavam no local desde antes da chegada dos militares da Rotam, sinalizando uma ação coordenada. Testemunhas relataram que o agente da guarda metropolitana atuou para afastar a proprietária da oficina e o mecânico, enquanto um policial da inteligência verificava se havia câmeras que pudessem registrar o interior do estabelecimento.
Afastamento e medidas restritivas
A Justiça do Tocantins determinou o afastamento dos cinco militares e do guarda das ruas, além da suspensão de seus portes de arma e o recolhimento dos armamentos. Também foi estabelecido o uso de tornozeleiras eletrônicas pelos investigados enquanto as apurações prosseguem.
Posicionamento:
Confira, a seguir, o posicionamento da Prefeitura de Palmas sobre o suposto envolvimento de um agenda da Guarda Metropolitana da capital.
A Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana (Sesmu), informa que desde que teve conhecimento da investigação está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana de Palmas que culminou na morte de uma pessoa no bairro Jardim Aureny III, em junho deste ano. Contudo, a SESMU não teve acesso à íntegra dos autos, mas, sendo confirmada a participação do agente, a pasta tomará todas as medidas cabíveis para apurar possíveis desvios de conduta e aplicar as sanções dentro do que determina a legislação. Cumpre ressaltar que a gestão permanece à inteira disposição das autoridades policiais para quaisquer esclarecimentos ou envio de informações.
Quem também emitiu nota sobre o caso foi o Sindicato dos Guardas Municipais do Tocantins:
NOTA OFICIAL
Sobre a operação deflagrada pela Polícia Civil nesta terça-feira, 14, no qual inclui um dos agentes da Guarda Metropolitana de Palmas, o Sindicato dos Guardas Municipais do Tocantins (SIGMEP-TO) reitera o compromisso que a GMP tem com o princípio da moralidade administrativa em nome bom serviço que presta à sociedade palmense desde sua criação.
Destaca que nunca a Guarda nunca deixou de cumprir suas obrigações institucionais e, tampouco as imposições legais às quais se submete imperativamente por força da lei.
Em nome da prudência e prezando pela boa relação entre as instituições, o SIGMEP lamenta o fato de a sede da GMP ser alvo de busca, considerando que nunca impôs nenhum empecilho a fim de atrapalhar o trabalho da Polícia Civil, mas sim sempre se colocou como parceira das demais instituições de Segurança Pública da capital.
Sobre o Guarda Metropolitano que figura como investigado, o SIGMEP acompanhará o decorrer do futuros possíveis desdobramentos, reforçando o cumprimento da legalidade das ações, estando o GMP amparado pelo princípio da presunção de inocência O Sindicato ainda ressalta a probidade, honestidade e o bom serviço prestado pelo profissional.
Adalberto Bernardo
Presidente do SIGMEP-TO