O Tocantins aparece em posição de destaque e, ao mesmo tempo, de alerta no Anuário VacinaBR 2025, publicação nacional organizada pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o Unicef Brasil. O documento traz um diagnóstico detalhado da situação vacinal no país, analisando dados coletados entre 2000 e 2023, com foco especial nos índices mais recentes de 2023.

O estudo foi elaborado a partir da consolidação de dados públicos do DataSUS, Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e IBGE, com recorte por estado, município e faixa etária. Os registros de doses aplicadas, populações-alvo e indicadores de cobertura vacinal e abandono foram processados e validados pela equipe do IQC. A base utilizada abrange informações sobre todas as vacinas do calendário infantil nacional e a vacina contra o HPV.

No levantamento sobre a vacina pneumocócica 10-valente, que protege contra doenças como pneumonia e meningite, o Tocantins foi, junto de Rondônia, o único estado a atingir a meta nacional de 95% de cobertura na primeira dose em crianças menores de um ano. Esse desempenho o colocou acima de estados tradicionalmente melhor posicionados, como Santa Catarina e Distrito Federal, que ficaram abaixo da meta.

Entretanto, o cenário se inverte nas doses subsequentes. Na segunda dose e no reforço da pneumocócica, o Tocantins acompanhou a tendência nacional de queda, não conseguindo manter o ritmo inicial. Nenhum estado brasileiro alcançou a meta de 95% para essas etapas, e a cobertura no Tocantins também ficou abaixo desse patamar.

A situação se repete e se agrava no esquema vacinal contra sarampo, caxumba e rubéola. Tocantins foi um dos poucos estados a atingir a meta de 95% na primeira dose da tríplice viral, ao lado de Rondônia, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. No entanto, registrou uma forte redução para a segunda dose – apenas 47,9% das crianças tocantinenses de 1 ano completaram o esquema vacinal em 2023, uma das maiores quedas regionais do país.

Para efeito de comparação, no Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul caiu de 100,9% na primeira dose para 37,8% na segunda, enquanto no Norte, o Tocantins teve a terceira maior redução, atrás do Acre e do Amapá, onde mais da metade das crianças também não receberam a segunda dose.

Tendência nacional de queda e abandono vacinal

O anuário revela que a redução das coberturas vacinais é um fenômeno nacional. Desde 2015, todas as regiões brasileiras enfrentam quedas, com sinais discretos de retomada apenas em 2022 e 2023. Em 2014, todos os estados brasileiros aplicaram a primeira dose da tríplice viral em mais de 95% das crianças de 1 ano – cenário que mudou drasticamente em menos de uma década. No levantamento de 2023, apenas quatro estados ultrapassaram essa marca na primeira dose, e nenhum estado atingiu 80% de cobertura no esquema completo.

O Tocantins, mesmo com seus bons números iniciais, enfrenta o mesmo problema estrutural do restante do país: abandono vacinal, hesitação e dificuldade de completar os esquemas previstos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Um retrato inédito e integrado

O Anuário VacinaBR 2025 organiza dados dispersos e de difícil acesso público, oferecendo indicadores como taxas de abandono e homogeneidade de cobertura, em séries históricas de mais de duas décadas. Segundo os organizadores, o objetivo é subsidiar políticas públicas de saúde, orientar campanhas e ajudar a combater a desinformação sobre vacinas.

Para o Tocantins, os dados são um alerta: é preciso reforçar estratégias de busca ativa e campanhas educativas, principalmente voltadas à importância da conclusão dos esquemas vacinais infantis. O desempenho acima da média na primeira dose confirma a capacidade do estado de alcançar as crianças, mas a queda acentuada nas etapas seguintes indica obstáculos ainda presentes no território.