O Tocantins preserva em seu território ao menos 30 ruas, avenidas e praças que homenageiam figuras e datas ligadas à ditadura militar (1964-1985). Os logradouros do Tocantins homenageiam datas e militares ligados à ditadura. A 31 de Março marca o golpe de 1964, que iniciou 21 anos de regime autoritário. Entre os militares lembrados estão o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do regime; Emílio Garrastazu Médici, responsável pelo período mais repressivo; e brigadeiro Eduardo Gomes, militar e político vinculado à estrutura do regime.

Embora seja o estado mais jovem do país, criado em 1988, o Tocantins foi um espaço de importantes episódios ligados à ditadura militar. A região do Araguaia recebeu atenção do regime devido à Guerrilha do Araguaia (1972–1974), um movimento de resistência contra a ditadura que resultou na morte e desaparecimento de militantes políticos opositores ao regime.

Além disso, municípios próximos à Transamazônica tiveram seu crescimento e ocupação fortemente influenciados por políticas do regime militar, reforçando a presença de oficiais e projetos de infraestrutura que marcaram a paisagem urbana. Confira a lista abaixo.

Memória

Especialistas afirmam que a manutenção desses nomes contribui para a perpetuação da memória autoritária, dificultando o reconhecimento das violações de direitos humanos cometidas durante o período. A CNV recomendou em 2014 a renomeação de logradouros que homenageiam figuras ligadas a crimes da ditadura, mas poucos municípios adotaram a medida.

No Tocantins, não há registros de projetos de lei ou iniciativas formais para alterar os nomes de ruas e avenidas ligadas à ditadura militar.

Contexto nacional

No Brasil, o levantamento da Folha de S.Paulo, com dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta mais de 2 mil logradouros com nomes ligados à ditadura, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os estados com maior número de endereços. O país ainda mantém referências a presidentes do regime e datas do golpe, como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Figueiredo e 31 de março, especialmente em regiões ocupadas militarmente durante a ditadura.

O número pode ser ainda maior, já que nem todas as cidades mantêm bases digitais atualizadas ou disponibilizam informações completas sobre seus logradouros. Especialistas destacam que a presença desses nomes reflete a dificuldade histórica de o país lidar com sua memória autoritária, sobretudo em cidades criadas ou expandidas durante o período militar, situação semelhante à de diversos municípios do Tocantins.

Municípios e logradouros do Tocantins com nomes ligados à ditadura militar

Araguatins

  • Rua 31 de Março
  • Rua Marechal Castelo Branco

Sítio Novo do Tocantins

  • Rua 31 de Março

São Miguel do Tocantins

  • Rua Presidente Médici

Ananás

  • Rua Eduardo Gomes

Araguaína

  • Rua 31 de Março
  • Rua Marechal Castelo Branco
  • Avenida Presidente Castelo Branco

Nova Olinda

  • Avenida Presidente Castelo Branco
  • Rua 31 de Março

Arapoema

  • Rua 31 de Março

Guaraí

  • Rua 31 de Março

Tocantínia

  • Rua 31 de Março

Miracema do Tocantins

  • Rua Presidente Castelo Branco

Santa Tereza do Tocantins

  • Avenida Marechal Castelo Branco

Porto Nacional

  • Avenida Presidente Castelo Branco

Peixe

  • Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes
  • Rua Brigadeiro Eduardo Gomes

Gurupi

  • Rua 31 de Março
  • Rua Presidente Castelo Branco

Alvorada

  • Rua 31 de Março
  • Avenida Castelo Branco
  • Rua Presidente Médici

Novo Alegre

  • Avenida Presidente Castelo Branco

Dueré

  • Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes

Silvanópolis

  • Avenida Presidente Castelo Branco

Paraíso do Tocantins

  • Avenida Marechal Castelo Branco
  • Avenida Presidente Médici

Itacajá

  • Rua 31 de Março

Goiatins

  • Rua 31 de Março

Leia mais:

Filme sobre crimes da ditadura traz confissões de militares e estreia nacionalmente com cenas gravadas no Tocantins

Filme gravado no Tocantins resgata caso real de jovem morto pela ditadura em Natividade

Cinco processos da Guerrilha do Araguaia podem ser reabertos após impacto do filme ‘Ainda Estou Aqui’