Tocantins mantém ao menos 30 logradouros com nomes ligados à ditadura militar

25 agosto 2025 às 17h24

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O Tocantins preserva em seu território ao menos 30 ruas, avenidas e praças que homenageiam figuras e datas ligadas à ditadura militar (1964-1985). Os logradouros do Tocantins homenageiam datas e militares ligados à ditadura. A 31 de Março marca o golpe de 1964, que iniciou 21 anos de regime autoritário. Entre os militares lembrados estão o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do regime; Emílio Garrastazu Médici, responsável pelo período mais repressivo; e brigadeiro Eduardo Gomes, militar e político vinculado à estrutura do regime.
Embora seja o estado mais jovem do país, criado em 1988, o Tocantins foi um espaço de importantes episódios ligados à ditadura militar. A região do Araguaia recebeu atenção do regime devido à Guerrilha do Araguaia (1972–1974), um movimento de resistência contra a ditadura que resultou na morte e desaparecimento de militantes políticos opositores ao regime.
Além disso, municípios próximos à Transamazônica tiveram seu crescimento e ocupação fortemente influenciados por políticas do regime militar, reforçando a presença de oficiais e projetos de infraestrutura que marcaram a paisagem urbana. Confira a lista abaixo.



Memória
Especialistas afirmam que a manutenção desses nomes contribui para a perpetuação da memória autoritária, dificultando o reconhecimento das violações de direitos humanos cometidas durante o período. A CNV recomendou em 2014 a renomeação de logradouros que homenageiam figuras ligadas a crimes da ditadura, mas poucos municípios adotaram a medida.
No Tocantins, não há registros de projetos de lei ou iniciativas formais para alterar os nomes de ruas e avenidas ligadas à ditadura militar.
Contexto nacional
No Brasil, o levantamento da Folha de S.Paulo, com dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta mais de 2 mil logradouros com nomes ligados à ditadura, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os estados com maior número de endereços. O país ainda mantém referências a presidentes do regime e datas do golpe, como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Figueiredo e 31 de março, especialmente em regiões ocupadas militarmente durante a ditadura.
O número pode ser ainda maior, já que nem todas as cidades mantêm bases digitais atualizadas ou disponibilizam informações completas sobre seus logradouros. Especialistas destacam que a presença desses nomes reflete a dificuldade histórica de o país lidar com sua memória autoritária, sobretudo em cidades criadas ou expandidas durante o período militar, situação semelhante à de diversos municípios do Tocantins.
Municípios e logradouros do Tocantins com nomes ligados à ditadura militar
Araguatins
- Rua 31 de Março
- Rua Marechal Castelo Branco
Sítio Novo do Tocantins
- Rua 31 de Março
São Miguel do Tocantins
- Rua Presidente Médici
Ananás
- Rua Eduardo Gomes
Araguaína
- Rua 31 de Março
- Rua Marechal Castelo Branco
- Avenida Presidente Castelo Branco
Nova Olinda
- Avenida Presidente Castelo Branco
- Rua 31 de Março
Arapoema
- Rua 31 de Março
Guaraí
- Rua 31 de Março
Tocantínia
- Rua 31 de Março
Miracema do Tocantins
- Rua Presidente Castelo Branco
Santa Tereza do Tocantins
- Avenida Marechal Castelo Branco
Porto Nacional
- Avenida Presidente Castelo Branco
Peixe
- Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes
- Rua Brigadeiro Eduardo Gomes
Gurupi
- Rua 31 de Março
- Rua Presidente Castelo Branco
Alvorada
- Rua 31 de Março
- Avenida Castelo Branco
- Rua Presidente Médici
Novo Alegre
- Avenida Presidente Castelo Branco
Dueré
- Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes
Silvanópolis
- Avenida Presidente Castelo Branco
Paraíso do Tocantins
- Avenida Marechal Castelo Branco
- Avenida Presidente Médici
Itacajá
- Rua 31 de Março
Goiatins
- Rua 31 de Março
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