Entre o campo e palco: o que falta para o Tocantins nas áreas de esporte e cultura?
01 julho 2024 às 14h52
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O Tocantins é um estado que tem recebido diversos investimentos, tanto por causa de sua posição geográfica, quanto pela produção de grãos. Os investidores têm cada vez mais procurado o estado para utilizá-lo como um hub para escoamento de produção e instalação de filiais com vistas a facilitar a logística. Mas existem duas áreas que muitas vezes são esquecidas e precisam de mais visibilidade e investimentos: o esporte e a cultura. Pensando nisso, entrevistamos duas pessoas que, cada um na sua área, são considerados especialistas. Para falar de esportes, convidamos o jornalista e cronista esportivo Edimar Rodrigues e para falar de cultura o cantor e compositor Dorivan Borges da Silva, o “Passarim do Jalapão”.
Esporte
Conversamos com o radialista e cronista esportivo Edmar Rodrigues que deu um panorama geral do esporte, principalmente do futebol no estado: “Em relação ao esporte em geral e, especificamente ao futebol, hoje temos duas especialidades com maior visibilidade aqui no Tocantins: o futebol de salão e o futebol de campo. O futsal, até pouco tempo atrás, contava com grandes times, inclusive equipes de Pedro Afonso, que dominaram por muito tempo o cenário. Houve uma queda na federação e o nosso futsal ficou um pouco em baixa. Hoje, com a retomada do TOC (Tocantinópolis), temos um futsal novamente forte, mas falta muita infraestrutura ainda. A maioria dos nossos ginásios são defasados. A capital, por exemplo, não tem um ginásio estadual ou municipal que possa abrigar partidas de futsal. O Ayrton Senna já está obsoleto e hoje se usam quadras privadas. Em quase todo o estado, temos dificuldades. O novo governo de Wanderlei Barbosa tem feito muitas reformas em ginásios que estavam praticamente abandonados há mais de 20 anos, o que trouxe uma retomada. Tivemos boas participações na Copa do Brasil de futsal”, explicou o cronista.
“Voltando para o futebol, nossa paixão nacional, no Tocantins, o problema não é a falta de investimento. O que vemos aqui, diferente de outros estados de dimensões semelhantes, é a falta de clubes responsáveis e interessados em fazer uma gestão enxuta e séria. Por exemplo, temos hoje o Tocantinópolis, um time de uma cidade pequena, com menos de 20.000 habitantes, que possui dois estádios de futebol, um municipal e um próprio do clube, o Estádio João Ribeiro. É um estádio que supera as expectativas para o tamanho da cidade. Em outras cidades, isso não acontece. Araguaína, por exemplo, não tem um campo municipal e todos dependem do Mirandão, que serve para treinamento, jogos e alojamento, desgastando muito a praça esportiva. Temos lá hoje dois clubes, Araguaína e União, tentando se levantar. O Araguaína, com a gestão do Tiba, faz com que a parceria funcione, tanto que veio o título deste ano. Acreditamos que em 2024 haverá uma alavancada no futebol de Araguaína”, enfatizou Rodrigues.
Em relação a capital, o radialista se mostrou mais cético. “Palmas hoje é uma incógnita em termos de infraestrutura. Temos um estádio defasado, com mais de 20 anos, que nunca foi renovado. Após a transferência do estádio do comando do Estado para a Prefeitura de Palmas, nada foi feito. Precisamos de renovação de laudos para jogos nacionais, pois os laudos são sempre precários. O Capital Futebol Clube representou a cidade na Série D, na Copa do Brasil e na Copa Verde, mas é um time que ainda não inspira muita confiança em termos de resultados. O Palmas Futebol e Regatas, que teve uma base forte e boas participações em diversas competições, foi vendido e, após o trágico acidente aéreo que matou seu presidente, o time fechou as portas”, lamentou.
“Palmas conta com os times do União e o Capital, como as principais equipes. O Capital é o time que se firma atualmente. O Ricanato (que é o mesmo que o Capital) luta para ter uma boa sede e um bom centro de treinamento, mas ainda é uma incógnita, uma vez que não se sabe o que vai acontecer, pois também é um clube-empresa. Outras cidades como Colinas, Dianópolis e Aliança, que já foram orgulho do nosso futebol, hoje não têm times representando. Alvorada, que já teve título estadual, e Paraíso, que já teve até duas equipes, hoje não disputam a elite do futebol tocantinense. Gurupi, com muitos títulos, luta para retomar as conquistas, mas não está fácil. Todos brigam para não cair. O Interporto, de Porto Nacional, enfrenta dificuldades financeiras e de gestão”.
“O que falta no nosso futebol não é fazer grandes contratações ou conquistar títulos, mas sim uma gestão eficiente. Não dá para fazer um time sem uma boa gestão, sem parceiros fortes e sem apoio público. Antigamente, o futebol era feito por amor, hoje é preciso uma estrutura profissional. É necessário trabalhar as categorias de base, buscar parceiros fortes, fazer parcerias com clubes de fora que tenham boa infraestrutura e incentivar a venda de jogadores”, pontuou Rodrigues, para logo adiante, concluir: “Hoje, não acumulamos torcedores e seguidores porque os jogadores vão embora ao fim dos campeonatos. Precisamos de uma gestão confiável, parceiros e apoio público para que essas parcerias deem frutos a curto prazo. Já estamos há mais de 30 anos de federação no Tocantins e cada dia vemos menos estrutura e investimento no nosso futebol,” concluiu de forma triste o cronista.
Cultura
Para falarmos de cultura, chamamos um dos artistas mais populares do estado do Tocantins, Dorivan, ou como é conhecido artisticamente, Passarim do Jalapão. Ele disse que os atuais investimentos a nível nacional têm ajudado muito o cenário tocantinense. “O estado agora está sendo contemplado com essas leis, como a Paulo Gustavo, que já foi ou está quase 100% paga e os projetos já estão sendo executados. É uma lei federal que chegou em boa hora. Ela é um desdobramento da pandemia, chegou na pandemia e foi mantida agora para esse primeiro ano do governo Lula. Então, a lei Paulo Gustavo está dando um bom suporte para os artistas aí nesses pós-pandemia. Em seguida, vem a lei Aldir Blanc. A Aldir Blanc ainda está em fase de escutas, fazendo as oitivas para poder colocar o projeto na praça. Eles ainda não disseram como é que eles vão formatar esses editais ou de que forma podem acontecer. Então, existe um outro fomento também, que são os editais locais, que é o Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), por exemplo, que é do município de Palmas e acontece todo ano. Esse edital, apesar de ter um recurso menor, vem também dando suporte em todos os segmentos. Tanto no audiovisual, como na música, na dança, no artesanato.
E isso vem também da Funarte, com seus programas de fomento. A Funarte (Fundação Nacional de Artes) também tem muitos programas de fomento, como a Petrobras Cultural e a Vale. Então, eu disse isso tudo porque, na verdade, o que está segurando mesmo os artistas, são esses recursos federais”, pontuou o artista.
Ele também falou da falta de incentivos por parte da iniciativa privada. “Agora, com a iniciativa privada do Tocantins não dá pra contar, pelo menos no meu caso. Nem eu e nem qualquer outro artista autoral aqui do Tocantins. Porque não existe um fomento. Esse fomento da iniciativa privada aqui no Tocantins, deveria chegar através de leis de incentivo, tanto municipal quanto estadual. Vários estados do Brasil, a maioria dos estados brasileiros têm essa lei. É uma obrigatoriedade de aplicação de parte do recurso do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) ou de outros impostos para a cultura. Então, acredito que seja de fundamental importância esse tipo de incentivo porque acabou essa política de aplicação do Governo Federal. Se hoje o governo sair daqui, em 2026, como fica? Como fica a obrigatoriedade desse investimento? Infelizmente, não vejo nenhum gestor, tanto estadual como municipal, abrir essa discussão, abrir esse debate para a gente iniciar. É, estão segurando porque estão trabalhando com esses recursos federais”.
O músico também destacou também que alguns incentivos têm “cartas marcadas”, não contemplando todos os artistas:
“A gente sabe que esses outros shows aí, que acontecem, são fruto de emendas. Essas emendas já são carimbadas. Os deputados já repassam para o artista X que faz parte da estrutura deles”.
Apesar disso, ele ressalta que têm visto apoio local para manter-se ativo no cenário cultural, mas volta a falar da falta de leis de incentivo:
“A gente está conseguindo se manter artista aqui no estado, diferente de outros estados. Mas em termos de estado, o que eu acho mesmo a deficiência é a não criação de leis de incentivo, não ter essas leis de iniciativas estadual e municipal, para a gente ter um recurso garantido. Para se parar tudo, a gente. Pode captar e sobreviver daí, né, dessas leis de incentivo estadual e municipal, mas, no geral, essa música que a gente faz, não é contemplada. É uma música meio renegada assim pelo setor turístico, que deveria também estar dando suporte porque a música é regionalista, com uma identidade regional. E o turismo deveria, em parceria com a Secretaria de Cultura, ajudar a colocar essa música na vitrine. Mas essa não é a realidade ainda, infelizmente.”