Palmas chega aos 35 anos nesta segunda-feira, 20 de maio, como um caminho cheio de recomeços para quem aqui cria raízes. A mais nova capital do Brasil tem sido refúgio para milhares de pessoas, algumas que chegaram quando a cidade ainda nem podia se chamar assim, ou até para quem mesmo chegou por esses dias. Palmas abraça quem quer que seja.

Fundada em 1989, pouco após a criação do Estado do Tocantins, Palmas foi inaugurada com o objetivo de se tornar um polo de desenvolvimento econômico e social para o estado. O nome da cidade homenageia a comarca de São João da Palma e a abundância de palmeiras que tinham na região. Nos últimos anos, Palmas tem se desenvolvido de forma a alcançar um espaço significativo entre as capitais do Brasil.

Foto: Luciana Pires/Secom Palmas

Com uma população de 302.692 pessoas segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Palmas teve aumento de 32,57% na quantidade de habitantes em comparação com o Censo de 2010. Conforme o IBGE, dessa forma, a capital é a cidade mais populosa do Tocantins, a 9ª da região norte e a 91ª do Brasil.

A cidade é atualmente o maior polo econômico do Tocantins, destacando-se na geração de empregos e na abertura de novas empresas. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes ao primeiro trimestre deste ano, Palmas registrou 12.813 contratações com carteira assinada. A cidade detém 41,59% do total de empregos formais do Estado, com 105.849 postos de trabalho ativos.

Conforme o DataSebrae, esses empregos estão distribuídos entre as 47.845 empresas que operam na capital, promovendo a distribuição de renda, aproveitando as oportunidades de crescimento e fomentando a economia local. Desse total, 25.665 são microempreendedores individuais (MEIs), 16.572 são microempresas e 3.324 são empresas de pequeno porte (EPPs). As demais 3.389 empresas incluem aquelas que não declararam o porte no momento da abertura.

Por esses motivos, entre outros, Palmas tem atraído pessoas que escolhem se mudar para a cidade e permanecer aqui. A seguir, conheça as histórias da educadora física aposentada Fauzia Roges Jordy e da arte-educadora e dançarina Manu Kronbauer. Além disso, veja a análise do sociólogo Antonio Pedroso sobre a habitação na cidade.

De férias à nova vida

Fauzia Jordy | Foto: Arquivo Pessoal

Em julho de 1991, uma visita de férias ao Tocantins mudou completamente a vida de uma educadora carioca. Trabalhando em três empregos no Rio de Janeiro – uma escola, uma creche e uma clínica de fisioterapia – a educadora física Fauzia Roges Jordy nunca imaginou que uma semana de descanso se transformaria em uma nova jornada de vida.

Seu pai, o primeiro ortopedista de Palmas, Anísio Jordy, pioneiro no estado, havia se mudado para o Tocantins em 1989, no dia do lançamento da Pedra Fundamental, trazendo consigo a filha mais nova, convidada para trabalhar na Secretaria de Saúde. Aproveitando a oportunidade para visitar os pais e buscar o filho, que passava férias com o avô, a educadora encontrou um cenário promissor.

No aeroporto, onde esperava a chegada da avó, conheceu dois membros da Secretaria de Educação que a informaram sobre o primeiro encontro dos profissionais de Educação Física das regionais de ensino. Encantada com as perspectivas, ela decidiu participar do curso, planejado inicialmente apenas como uma semana de descanso.

“Fiquei fascinada com as oportunidades aqui e decidi não voltar mais para o Rio”, conta. A decisão foi rápida. Ligou para seus empregadores no Rio de Janeiro e comunicou sua mudança definitiva para o Tocantins. Retornou ao Rio apenas para buscar suas roupas e organizar a nova vida no estado.

Sua adaptação foi rápida. Logo descobriram suas habilidades como professora de natação e arranjaram uma piscina e alunos. Pouco tempo depois, a Secretaria de Educação do Estado a convidou para ser coordenadora da regional de ensino de Palmas, cargo que aceitou com entusiasmo.

Inicialmente morando em Porto Nacional devido à falta de infraestrutura habitacional em Palmas, ela viajava diariamente para a nova capital, um percurso que manteve por dois anos e meio. “Foi um período desafiador, mas muito gratificante”, relembra.

De outubro até abril, trabalhou nos processos iniciais da Secretaria de Educação, participando da formação do Conselho Estadual de Educação e Cultura, e presenciou o planejamento da Unitins. Em 1992, passou em primeiro lugar no concurso público, consolidando sua posição no novo estado.

Em dezembro de 1991, conheceu seu futuro marido em Palmas. Divorciada, construiu uma nova família e teve um filho em 1996, um autêntico palmense. Seu envolvimento na educação e na cultura local só cresceu. Entre 1995 e 1996, participou da formação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Palmas (APAE) de Palmas, com seu pai sendo um dos fundadores. Inaugurou várias escolas na cidade, incluindo a Escola Frederico, a Escola Madre Belém e o Colégio Militar, sempre com entusiasmo e dedicação.

Sua vida em Palmas foi marcada por constante evolução e engajamento. Aposentada desde 2021, continua envolvida no movimento junino, onde começou como avaliadora em 2009, e reflete sobre o crescimento da cidade com orgulho. “Ver Palmas se desenvolver desde os primeiros dias, de uma grande fazenda de arroz a uma capital, foi uma experiência incrível”, afirma.

Hoje, a educadora se considera completamente tocantinense. “Palmas é a minha casa, onde construí minha família e realizei meus sonhos profissionais. Sou feliz e realizada aqui”, conclui.

Qualidade de vida e acolhimento

Manu Kronbauer | Foto: Arquivo Pessoal

Manu Kronbauer, arte educadora, coreógrafa e diretora artística, mudou-se para Palmas há um ano e meio, vinda de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. A escolha por Palmas foi influenciada pelo clima quente, que melhorou sua saúde respiratória, e pela beleza natural da região. Além disso, Manu encontrou em Palmas um ambiente mais seguro e acolhedor, especialmente em relação à sua identidade como mulher trans, contrastando com a discriminação que enfrentava no Sul do país.

“É uma cidade nova, uma capital em construção, assim como o estado do Tocantins. Além disso, o clima foi um fator decisivo. No Sul, durante o inverno, eu tinha muitos problemas respiratórios, mas desde que estou em Palmas, há um ano e meio, não tive nenhum problema”, explica.

A beleza natural do estado e da cidade de Palmas, incluindo as praias de água doce, também a atraiu. “Culturalmente, acredito que o estado e a cidade são fortes. Minha principal motivação foi a vontade de estudar a cultura do Norte, e escolhi Palmas para iniciar essa pesquisa.”

Para ela, Palmas é uma cidade que apresenta desafios comuns a qualquer cidade em desenvolvimento. “O transporte público, por exemplo, é deficiente, o que obriga muitas pessoas a terem um carro ou moto. No meu caso, não posso dirigir devido à minha deficiência, então uso Uber, o que acaba sendo mais caro. O transporte público é superlotado e os ônibus circulam apenas nas principais vias, não entrando nas quadras”, comenta.

Apesar dessas questões, ela se sente segura em Palmas. “Nunca sofri preconceito por ser uma mulher trans, algo que é muito diferente do Sul, onde o preconceito é forte. A qualidade de vida em Palmas também é um ponto positivo. A cidade é ampla e plana, o que facilita a prática de atividades físicas ao ar livre, mesmo para quem não pode pagar uma academia”, complementa.

Desafios

Foto: Luciana Pires/Secom Palmas

O sociólogo Antônio Pedroso, doutor em ciências sociais e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), analisa os desafios urbanos de Palmas. Segundo ele, a cidade enfrenta problemas estruturais como os vazios urbanos – terrenos desocupados que elevam os custos de manutenção e expansão da infraestrutura urbana.

Pedroso sugere que mudanças normativas, como a criação de impostos progressivos para terrenos não utilizados, poderiam otimizar a urbanização e melhorar a qualidade de vida. “A criação de impostos progressivos para terrenos parados pode obrigar os proprietários a utilizarem ou venderem esses espaços, evitando a especulação imobiliária”, sugere. Ele acredita que essa medida traria a população para os espaços urbanos já servidos por infraestrutura, otimizando recursos como transporte público, distribuição de água e energia.

Segundo o sociólogo, a ocupação dos vazios urbanos poderia melhorar significativamente a qualidade de vida dos moradores de Palmas. Com uma cidade mais compacta, os serviços de infraestrutura seriam mais eficientes, reduzindo custos e melhorando a acessibilidade. No entanto, ele reconhece que a implementação dessas mudanças enfrenta barreiras políticas, já que mexe com interesses de grandes empresas imobiliárias e proprietários de muitos terrenos.

Outro ponto levantado por Pedroso é a desigualdade e segregação na cidade. “As pessoas com salários mais baixos e trabalhos manuais vivem longe do centro, onde estão as indústrias e comércios, enfrentando longos deslocamentos diários”, observa. Ele vê poucas possibilidades de melhoria sem mudanças políticas profundas, que são difíceis devido à resistência de grupos com interesses estabelecidos na atual configuração urbana.