Por Redação

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Crônica
O solene fim do Bactéria

Carmo Gomes*

E no mesmo instante o galo cantou.
Mateus 26.74.

O menino sentia como se houvesse no ar um gosto de bala velha, esquecida no fundo de uma gaveta. “Seria um verdadeiro milagre”, a vovó dissera uma semana antes, “conseguir reunir todo mundo nessa época do ano”. E ali estavam os quatro filhos, a nora… – e a molecada, concluía o menino, procurando com os olhos os primos, que disputavam as poucas tomadas da sala para carregarem os celulares…
Só que a vovó não parecia mais feliz que no resto daquele ano. Estava, como sempre, uma pilha de nervos. Meia hora antes o menino a pegara gritando com sua pobre mãe Lena, que ficava girando em torno dela na cozinha apertada, tentando acatar suas ordens. E notara que as mãos de sua mãe estavam mais trêmulas do que de costume. O motivo da tensão parecia ser o frango, que a avó, ao chegar da rua, obrigara sua mãe a retirar da mesa da sala e levar de volta para o forno, gritando que ainda estava cru e se ela, “uma mulher velha dessas”, não conseguia perceber a diferença.

Todos na família haviam aprendido a lançar as grosserias da vovó na conta de sua doença dos nervos. Mas algo mais parecia estar errado – o menino percebia, associando aquilo com o gosto insosso de balinha dura e envelhecida – e era que ninguém mais parecia ser como antes. O tio padeiro, por exemplo, não trouxera queijos para vovó neste ano e nem pulara da cama de madrugada para fazer fornadas de rosquinhas de coco, como da última vez. O tio daquela igreja engraçada já não o pegara no colo. Além disso, a esposa dele não saíra do quarto uma única vez, desde que haviam chegado, no início da tarde. Já o tio pastor – o preferido da vovó –, geralmente calmo e sabido, dessa vez estava falando pelos cotovelos com aquele velhinho que a avó sempre convidava para as comidas de fim de ano. E naquele converseiro todo tinha algo de estranho.

– O pessoal não sabe latim – reclamava o tio pastor, virando a boca para o ouvido bom do velhinho, ainda que pudesse ser ouvido por quem quisesse na sala pequena e abafada, onde todos estavam distribuídos como podiam, aguardando o fim da solenidade para atacar as comidas. – Nem latim nem história nem coisa alguma! Como eles vão adivinhar que quando o texto dos evangelhos na Vulgata diz “o galo cantou” não quer se referir ao marido da galinha… Era o gallicinium! Entende? O soldado romano e sua trombeta, tocando de madrugada para a troca do turno da guarda?

– Eh, né? – respondia sem jeito o pobre do velhinho, sem entender nada e temendo ofender a dona da casa, que era tão boa com ele. O tio da igreja engraçada lançou um olhar feio para o tio pastor, que nem ligou:

– O senhor já viu como o pessoal troca tudo, parece, de propósito? Cristo, a Verdade em carne e osso, pode ter nascido no primeiro de abril. Pois não fizeram desse o Dia da Mentira! A Páscoa, festa do Cordeiro e das ervas quase tão amargas como a escravidão, virou a festa dos coelhos e da chocolatada doce. Logo coelho: símbolo da incontinência e da luxúria… já viu procriação mais desenfreada que a de coelhos? E o Natal, então? O Natal, nascimento de nosso Senhor (que deve ter sido em abril, como eu lhe disse, e não em dezembro)… O que tem a ver, comer frango assado no Natal? A festa de Ações de Graças dos americanos é com peru, daí inventaram de copiar. Mas como peru é difícil e frango tem em todo lugar… Mas não é uma esquisitice?!

– Shh! – fez alto o tio da igreja engraçada. O tio pastor se recolheu e não disse mais nada, contrariado. O menino viu sua mãe sair de fininho e se trancar no quarto da vovó. Esta, finalmente entrou na sala com a forma e passou o frango para o lugar que lhe haviam reservado: o centro da bandeja com as batatas assadas e farofa com ameixas secas. A vovó o alisava com um garfo, completamente distraída.
– Vamos logo, mamãe! – reclamou o tio padeiro, que não conseguia mais manter debaixo dos braços os dois filhos, que teimavam em escapulir de volta para seus lugares junto às tomadas. Foi então que a vovó, se mais nem menos, ao invés de falar da família e da importância de estarem reunidos naquela data tão sagrada e aquilo tudo que ela sempre dizia todo ano, começou a sorrir estranho e a contar a história daquele grande frango: que ele fora enjeitado ao nascer, ficando sem irmão e sem mãe; muito doentinho, tomara bastante remédio até virar frangote e que um dia alguém dissera que ele nunca ia servir para comida pois tinha sido pura bactéria quando pintinho…

Enquanto ela dizia aquilo tudo, o menino se comoveu, lembrando-se de como vira a avó cercar o bicho horas antes no corredor. Dele gritando e tentando se safar… Ela prendera os pés dele sob o pé gorducho dela, pegara-o pela cabeça com a mão esquerda, esticara-lhe o pescoço e, com a faca afiada que tinha na mão direita, raspara-lhe a penugem da garganta… O menino até quisera fechar os olhos para não ver o lance final, mas uma triste curiosidade o fizera fixar até o fim o ritual: o corte rápido e o jorrar do sangue espesso e escuro no prato, enquanto o Bactéria gorgolejava e tentava escapar. Mas o mais assustador tinha sido quando a avó liberara o frango para morrer e ele, saltando de uma maneira quase engraçada, dera ganidos estranhos enquanto o resto do seu sangue esguinchava no quintal, até que finalmente ele parecia ter se rendido e ficara imóvel para sempre…

– Vovó! – gritou choroso o menino no meio da sala perplexa – eu não vou querer frango!

Nascido em Bandeirantes do Tocantins (TO) em 1974, Carmo Gomes foi alfabetizado pela mãe e iniciado no mundo literário pelas rodas de cordel do pai. Fez seus estudos universitários na Federal de Goiás e é professor de Letras na UFT de Porto desde 2011. Tentou escrever o primeiro enredo policial aos 15, mas só lançou o primeiro romance em 2018, aos 46 anos. Era o primeiro livro da sua trilogia “Beleza & Temor”, da qual já publicou também o segundo volume. Publicou ainda o cordel “As desventuras de Nóis Mudemo”.

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