Detalhes da Fames-19: PF apreende dinheiro, carros e relógios de luxo, joias e armas; deputado achou que batida policial era “brincadeira”
Samir Leão
24 setembro 2025 às 12h12
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A segunda fase da Operação Fames-19 expôs um cenário que mistura dinheiro vivo, veículos de alto valor, relógios de grife e episódios curiosos durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra deputados e ex-parlamentares do Tocantins. A ação teve como alvos nomes conhecidos da política local, entre eles o governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos), deputado e ex-deputados estaduais. É o que revela o relatório da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor/SR/PF/TO), ao qual a reportagem teve acesso.
Um dos episódios que chama atenção ocorreu no apartamento do deputado estadual Olyntho Neto (Republicanos). Segundo o documento, apesar de a porta do apartamento estar aberta, a suíte do parlamentar estava trancada e ele teria se recusado a abrir para os policiais, mesmo após identificação oficial da equipe. Diante da negativa, a PF arrombou a porta. Olyntho então afirmou acreditar que se tratava de uma “brincadeira de amigos”, já que havia dado uma festa no local na noite anterior.
Na suíte, os policiais apreenderam R$ 64,4 mil em espécie, US$ 1 mil, € 4.970, três celulares, joias, um tablet, arma de fogo e relógios de grife como Rolex e Patek Philippe. O assessor Emmanuel Ribeiro, presente no local, também teve o celular apreendido.
Valdemar Júnior
Na casa do deputado Valdemar Júnior republicanos), a PF localizou R$ 4.105 em uma Hilux locada pela Assembleia Legislativa, além de R$ 570 em espécie, relógios de marca e celulares.
Luana Ribeiro: “Assinei sem saber”
Durante as buscas, a ex-deputada estadual Luana Ribeiro acompanhou a ação ao lado do advogado. Aos policiais, ela declarou que, quando assumiu o mandato como suplente de Ivory de Lira (PcdoB), teria assinado “vários documentos” em nome dele sem saber do que se tratava.
Jorge Frederico
As buscas em Palmas não foram realizadas por erro no número do apartamento. Já em Araguaína, a operação recolheu R$ 36 mil em espécie, € 1.855, dois carros avaliados em mais de R$ 100 mil e agendas com anotações.
Vilmar Oliveira
Na casa do deputado Vilmar Oliveira, os agentes encontraram documentos, mídias digitais e apreenderam um barco registrado em nome de empresa, mas declarado como propriedade do parlamentar.
Cleiton Cardoso
Na residência do deputado Cleiton Cardoso, a PF recolheu três celulares, incluindo um usado durante eleições, e um veículo Honda HRV 2025 registrado em nome de empresa ligada à família.
Valderez Castelo Branco: quase R$ 700 mil no cofre
O maior valor apreendido foi na residência da ex-deputada Valderez Castelo Branco, em Araguaína. Após arrombarem a porta do quarto, os agentes encontraram duas armas registradas em nome do marido, o ex-deputado federal Lázaro Botelho, e acionaram um chaveiro para abrir um cofre. Dentro havia R$ 698.050 em espécie, além de perfumes e suplementos. O montante foi recolhido, sendo R$ 697,3 mil depositados judicialmente e R$ 700 enviados para perícia.
Na garagem, também foram apreendidos três veículos de luxo: uma Toyota Corolla Cross híbrida, uma Hilux e uma Fiat Titano Ranch.
Amélio Cayres
Nas buscas na residência do deputado Amélio Cayres (Republicanos), que preside a Assembleia Legislativa do Tocantins, os agentes encontraram R$ 25 mil em espécie escondidos dentro de um veículo oficial da Casa de Leis. O carro, um VW/Polo, estava sob a posse do filho do parlamentar, Raul Cayres, que declarou utilizar o automóvel para fins particulares, mas não soube explicar a origem do dinheiro, guardado em uma sacola da própria Assembleia.
Alvos
A segunda fase da Operação Fames-19 teve como alvo gabinetes de deputados estaduais e residências de parlamentares, além de resultar no afastamento judicial do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). O relatório foi encaminhado ao ministro relator Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e deverá subsidiar os próximos passos da investigação que apura corrupção e possível lavagem de capitais no estado.
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