O crime do assédio e o roteiro de filme de terror que foi engendrado em Brasília
07 setembro 2024 às 10h48
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Na última quinta-feira, 5, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, foi acusado de assédio sexual por diversas mulheres, segundo a ONG MeToo, que é uma organização sem fins lucrativos presta apoio a vítimas de violência sexual. Silvio, no entanto, nega todas as acusações.
O ministro teria feito como vítima, inclusive, uma de suas colegas de governo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Mesmo com o ministro negando as acusações, o governo Lula demorou, quase um dia inteiro, para demitir o ministro supostamente assediador.
O caso parece um roteiro de filme de terror impensado neste governo e em nenhum outro. A grande desgraça da história é que o fato aconteceu bem no Ministério de Direitos Humanos, local onde se deveria prezar pelo cuidado e bem-estar da vida dos mais vulneráveis.
Durante a visita do presidente à Goiânia, ele chegou a comentar o assunto e as informações que circulavam nos bastidores é de que Almeida entregaria o cargo. Até o fechamento desta coluna não se sabia se ele seria demitido ou se entregaria o cargo. De toda a forma, o presidente foi em incisivo a dizer para a rádio Difusora, que seu governo não toleraria assediadores.
A demora na tomada de atitude foi justificada por uma conversa que Lula gostaria de ter com Anielle para “confirmar as acusações” que ela mesma teria feito à ONG. Mesmo sendo algo importante que isso seja feito, outras mulheres teriam denunciado Silvio, o que é mais que motivo plausível para demiti-lo de um posto tão importante para a administração pública.
Silvio é um professor conhecido de inteligência invejável, porém, caso as acusações se confirmem, ele deixará de ser tudo isso e passará a ser, apenas, mais um assediador. No mundo em que milhões de mulheres são assediadas todos os dias, esperaríamos que ao menos dentro da esfera do governo que prometeu proteger essas mulheres casos como esse não ocorressem.
O assédio é um dos crimes mais recorrentes nas ruas, locais de trabalho e até mesmo dentro das residências das mulheres brasileiras. O crime tem impactos sociais e psicológicos muitas vezes incuráveis para as vítimas.
Já o criminoso, por sua vez, muitas vezes consegue viver sua vida tranquilamente, sem nenhuma represália ou punição. A grande maioria dos casos de assédio sexual, hoje, sequer são notificados por muitas mulheres se sentirem em situações inferiores aos homens que às assediaram. Essa falta de punição faz com que criminosos se sintam ainda mais confortáveis para cometer os crimes.
Quando um caso como esse acontece na esfera mais alta da administração pública, querendo ou não, coloca em holofote algo tão horrível que faz tantas vítimas todos os dias. O movimento MeToo fez algo importante ao mostrar que, não importa quem você seja, o seu cargo, os seus diplomas, a sua participação no governo, se você cometer esse crime contra a mulher, você será exposto.
Agora, caso comprovado, o que resta é se ter uma punição exemplar para mostrar que sim, o assédio sexual é um crime e que não existe uma pessoa no Brasil que não seria punida por isso. Isso cabe a Justiça mas, ao governo Lula, o que cabe é a demissão imediata de alguém acusado de tal crime, inclusive contra colegas.
O atraso na tomada dessa decisão faz com que a população pense que o governo é conivente com o crime. Que, caso você seja amigo de Lula, você pode cometer tal crime. A cada minuto que passou com Silvio Almeida dentro da Esplanada dos Ministérios após as acusações, foi mais um arranhão na imagem do governo.