O mito da compensação: quem destrói não devolve o que tirou

15 maio 2025 às 18h03

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Nos discursos de progresso, tudo parece negociável. O desmatamento, a monocultura, a expulsão das famílias do campo — tudo pode ser “compensado”. Mas a verdade é que não há compensação real quando o que se perde é a própria vida.
Como compensar um rio que secou? Uma comunidade que foi embora? O calor que castiga porque a mata já não está lá? Prometem desenvolvimento sustentável, mas o que sustentam de fato é um sistema que concentra terra, poder e riqueza, enquanto distribui miséria, calor e silêncio.
As grandes monoculturas se modernizaram, encheram-se de tecnologia, mas esvaziaram o campo. Não há mais emprego, não há comida para quem planta, não há retorno para quem vive perto. Só restam os rastros: o barulho das máquinas, o cheiro do agrotóxico e a poeira que cobre tudo.
Pior: a chamada “compensação ambiental” serve mais para aliviar a consciência de investidores do que para reparar o que foi tirado. Plantam algumas árvores em outro lugar, financiam relatórios bonitos, criam selos verdes. Mas o que era território vivo se tornou estatística de produtividade.
No fim, quem paga a conta são os mesmos de sempre: os pobres, os ribeirinhos, os quilombolas, os indígenas, os pequenos agricultores. São eles que perdem a água, a sombra, o sustento e o direito de ficar.
Não existe compensação possível para a destruição que vem com esse modelo. Não há “sustentabilidade” quando o que está em jogo é a vida. E ela, diferente do lucro, não pode ser reproduzida em série.