CRM e sindicato de médicos anteciparam possível colapso no Hospital Dona Regina; MP apura óbitos

31 outubro 2024 às 16h43

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Nas últimas 24 horas, o Hospital e Maternidade Dona Regina (HMDR), em Palmas, teria tido três óbitos de mães e bebês, conforme boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil do Tocantins. Dados do Integra Saúde apontam que em 2024 ocorreram 10 óbitos maternos e 216 óbitos infantis no Estado.
Há pouco menos de dez dias, o Conselho Regional de Medicina (CRM) e do Sindicato dos Médicos do Tocantins (Simed) revelaram à imprensa que o hospital enfrentava uma crise que envolvia a falta de profissionais médicos, sobrecarga de trabalho e condições inadequadas, fatores que estariam levando o sistema de saúde à beira do “colapso”.
Os representantes descreveram o cenário como crítico, principalmente nos setores de pediatria e obstetrícia, com profissionais formados na residência médica do hospital preferindo atuar em outras regiões ou até mesmo deixando o estado em busca de melhores condições de trabalho.
Frente a isso, o Ministério Público do Tocantins (MPTO) realizou uma inspeção na Maternidade Dona Regina, em Palmas, para investigar óbitos recentes nesta quinta, 31. O promotor Thiago Vilela e sua equipe foram recebidos pelo diretor do hospital, Fernando Pinheiro de Melo, e requisitaram documentos médicos e relatórios de comissões internas para avaliar possíveis falhas na prestação de serviços e a disponibilidade de especialistas, com foco em obstetrícia e pediatria.
Após a vistoria, o MPTO reuniu-se com o secretário de Saúde, Carlos Felinto Júnior, que, conforme o MP, detalhou medidas para melhorar o atendimento, como aumento nas indenizações de plantonistas.
Entenda
Nesta quinta-feira, 31, Karle Cristina Vieira Bassorici, técnica de enfermagem grávida de 38 semanas, e seu bebê Lorenzo morreram na quarta-feira, 30, após complicações na unidade hospitalar. Conforme revelado à reportagem, não é o único caso registrado nesta semana.
A família registrou boletim de ocorrência, tratando o caso como homicídio culposo e pedindo investigação pela Polícia Civil. Karle chegou ao hospital com febre e dores e foi atendida por uma médica, que prescreveu no dia 30, medicação sem solicitar exames, conforme a família.
Na madrugada seguinte, nesta quarta, Karle retornou com dores, e após exame, foi encaminhada ao centro cirúrgico. O bebê já estava morto, e Karle sofreu hemorragia, falecendo horas depois. A família questiona se Lorenzo nasceu com vida, relatando que inicialmente foram informados que ele foi reanimado, mas uma certidão de natimorto foi emitida. O prontuário foi solicitado pela família, que também pediu que o corpo fosse levado ao IML para exames necroscópicos, e aguarda o laudo da polícia para esclarecimentos.
Ainda segundo a defesa da família, o Hospital informou que o corpo de Karle seria enviado para o Serviço de Verificação de Óbitos. A família contestou essa decisão e pediu que o corpo fosse encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para que exames necroscópicos determinassem a causa da morte dela. Por esse motivo, foram orientados a registrar um boletim de ocorrência.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) emitiu uma nota afirmando que todos os procedimentos internos da unidade hospitalar foram realizados, mas que o quadro clínico dos pacientes se agravou. O Jornal Opção Tocantins questionou o Estado para saber quais medidas estão sendo tomadas para mitigar possíveis problemas no atendimento do hospital.
Nota
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que trabalha de forma estratégica para fortalecer a rede hospitalar sob sua gestão, em especial ao Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos (HMDR), unidade de alta complexidade referência para a macrorregião sul do Tocantins.
Dentre as ações da gestão estão os chamamentos públicos, amplamente divulgados para a contratação de médicos especialistas em ginecologia e obstetrícia e pediatria e o estabelecimento de indenização para profissionais de saúde que atuam em plantões extraordinários nas unidades hospitalares, com o objetivo garantir a imediata recomposição de escalas de serviço de profissionais de saúde e substituir os servidores em caso de licença, com atestado médico, ou em gozo de férias.
A SES-TO pontua que está prevista para publicação, no Diário Oficial do Estado (DOE-TO), da quinta-feira, 31, a instituição de Indenização por Procedimentos Obstétricos, com valores específicos para o HMRD, contribuindo para suprir as lacunas de médicos especialistas e estimular as equipes.
Palmas, 31 de outubro de 2024
Secretaria de Estado da Saúde