O ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse (Agir), se manifestou nesta quarta-feira, 30, após a Polícia Civil concluir a primeira fase da investigação da Operação Via Avaritia, que o aponta como um dos envolvidos em um esquema de desvio de recursos públicos que teria movimentado mais de R$ 10,3 milhões durante sua gestão. O inquérito faz parte da Operação Renorcrim, coordenada nacionalmente pelo Ministério da Justiça, e será encaminhado ao Poder Judiciário.

Segundo a Divisão Especializada de Repressão à Corrupção (DECOR), as investigações revelaram a atuação de uma organização criminosa composta por 26 pessoas, entre elas o ex-governador, quatro ex-secretários de Estado e sete servidores públicos. A apuração aponta fraudes desde a fase inicial da licitação até a lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada. Parte do dinheiro desviado, conforme o relatório, teria sido utilizado para custear despesas pessoais dos envolvidos, incluindo o financiamento do curso de Medicina da filha de um servidor.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Carlesse reagiu com indignação às conclusões da Polícia Civil. “Isso é uma grande perseguição política, aliás, é uma perseguição pessoal”, afirmou. O ex-governador sustentou que, desde o início das investigações, iniciadas em 2019, não houve a apresentação de nenhuma prova contra ele. “Eles não têm uma prova, nada contra mim”, disse.

Carlesse também questionou a legalidade da atuação da Secretaria de Segurança Pública na apuração. “Estão usando o Estado para me desmoralizar. Me colocam como chefe de quadrilha, como se eu fosse bandido. Isso é triste”, declarou. Em tom de desabafo, o ex-governador afirmou que sua gestão foi marcada por equilíbrio fiscal, pagamento em dia de salários e enfrentamento da pandemia com distribuição de cestas básicas. “Esqueceram que deixei R$ 2 bilhões em caixa e todas as contas regularizadas. Isso eles não falam.” Cabe lembrar que a distribuição de cestas básicas do Governo do Estado na pandemia motivou a Operação Fammes-19, por supostos desvios de R$ 5 milhões.

O ex-governador ainda relembrou a prisão preventiva a que foi submetido em 2024. “Fiquei 64 dias preso por uma grande invenção desse pessoal da Polícia Civil”, disse, reforçando que se sente injustiçado. “É uma narrativa construída por meia dúzia que eu desagradei quando coloquei ordem na casa.”

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Em entrevista anterior, o ex-governador revelou que o deputado federal Toinho Andrade (Republicanos), então presidente da Assembleia Legislativa, teria sido o articulador de sua destituição. “Esse sim foi o traidor. Duas vezes eu o apoiei para a presidência da Assembleia, e no momento em que eu mais precisava, ele virou as costas e puxou o tapete. Se ele quiser me processar, que processe, mas a verdade precisa ser dita”, afirmou.

Apesar das polêmicas, o ex-governador reforça que sua administração promoveu avanços em infraestrutura, segurança e equilíbrio fiscal. Disse ainda que pretende percorrer o Tocantins para esclarecer sua versão dos fatos e avaliar um possível retorno à vida pública: “O futuro, só Deus sabe.”

Por fim, Carlesse desafiou os investigadores a apresentarem provas concretas. “Se tiver alguma prova, que apresentem. Desde 2018 estão me investigando e até agora nada”, concluiu.

A Polícia Civil não comentou as declarações do ex-governador até a publicação desta reportagem. O inquérito será agora analisado pelo Poder Judiciário, que deverá decidir sobre possíveis denúncias e outras medidas legais.