Faltou Dizer

Encontramos 308 resultados
A falta de competência pode ter salvado a República

Bonny Fonseca

A operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que atingiu todo o núcleo duro do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi a peça que faltava para dar visibilidade à dimensão de um quebra-cabeça obscuro que arquitetou um golpe contra o Brasil pelos ditos “patriotas”.

É importante ressaltar que a peça central da operação desta quinta-feira, 8, é um vídeo, que a PF afirma que tem posse, de uma reunião entre o ex-presidente, com Anderson (ex-ministro da Justiça), general Augusto Heleno (ex-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Mário Fernandes (então Chefe-substituto da Secretaria Geral da Presidência), e Walter Braga Neto(ex-ministro da Defesa). 

Quem seria tão “inteligente” ao ponto de gravar uma reunião da alta cúpula do governo de deixar arquivado em casa? 

O material foi apreendido em uma busca na casa do ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente Mauro Cid. De acordo com as investigações da PF dão conta de que a reunião se trata do arranjo da dinâmica golpista. 

No vídeo, Bolsonaro pediu para Torres os ataques de credibilidade ao sistema eleitoral. Heleno disse aos presentes que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”. A transcrição mostra que o general foi calado por Bolsonaro, que pediu que o tema fosse tratado apenas com ele. 

O pequeno Heleno também diz que é necessário os órgãos de governo atuarem pela vitória de Bolsonaro nas eleições de 2022. 

“Não vai ter revisão do VAR. Então o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar sono na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse Heleno no vídeo. 

A intenção era acabar com a República, porque eles são patriotas. Não existe raciocínio lógico. Se é vermelho, de esquerda ou depõe contra a direita (e não precisa nem ter todos esses ingredientes junto).

Todos esses absurdos não são sobre direita ou esquerda, comunismo ou neoliberalismo. São sobre uma nação onde não cabe mais a imposição da força ao poder estabelecido de forma constitucional. 

Diante do pensamento primitivo, talvez a incompetência tenha salvado a República. 

Faltou Dizer
População precisa fazer sua parte na luta contra a dengue, inclusive cobrar ações das prefeituras

Nós sabemos que não faltou dizer e que já foi dito milhares ou milhões de vezes, mas não custa lembrar o que vamos falar aqui. A responsabilidade não é apenas do poder público, é também de cada cidadão.

Por que o brasileiro percebe aumento na corrupção?

A forma como o país desfaz erros importa. Por mais que a Lava Jato tenha sido falha, nem as empresas, nem Toffoli negaram os bilhões em corrupção

O ego é um mal secular ou é necessário para a sobrevivência?

*Cynthia Pastor (editora do Jornal Opção Entorno)

Existem “adultos” que sofrem de um egoísmo latente e crônico, que se traduz muitas vezes em falta de responsabilidade com os outros, falta de maturidade, além de uma arrogância (que os protege) quase sem limites. Lidar com um adulto “egoico” significa dar de cara, sobretudo, com a falta de empatia. É um desafio para poucos, talvez, para domadores de leões, psicólogos, psiquiatras ou, até quem sabe, exorcistas!

O egoico sempre vai priorizar a sua agenda e suas opiniões em praticamente tudo: na vida pessoal e afetiva, na vida profissional, nas amizades, na família. Pirão? É sempre o dele primeiro e a decisão final também. Não é uma pessoa democrática, não é uma pessoa empática, não é uma pessoa com abordagem antropológica sobre os outros mundos e pessoas. Não é uma pessoa aberta ao diálogo colaborativo, mas, sim, uma espécie de “colonizador” que chega atirando suas prioridades e regras bem definidas em qualquer território que adentre.

E há os codependentes tolos (aquelas pessoas que topam desempenhar o papel de salvadores ou ajudadores dos egoicos) e que se sentem capazes de transformar os seres egoicos em gatos mansos e até mesmo idealizam uma relação perfeita com eles, sonham com ela, avessos à real impossibilidade de construir um castelo com areia movediça. Uma relação com um egoico é forjada numa estrutura em que o outro acaba submetido a abusos morais comuns no discurso e nas atitudes do egoico.

Em geral, o termo “egóico” carrega em sua essência uma conotação negativa. O ego um dia descrito por Sigmund Freud é frequentemente observado de fato como uma fonte resultante de problemas psicológicos, que vão da ansiedade à depressão e à baixa autoestima. Porém, Jacques Lacan, discípulo de Freud que discordava do “mestre” e que, a partir daí, desenvolveu sua própria teoria psicanalítica, explica que o inconsciente é estruturado como uma linguagem e, por isso, o egoico é resultado de uma estrutura alienada.

Como assim? Lacan descreve que, neste caso, a estrutura da pessoa egoica não é construída a partir da identificação com o outro, mas sim como algo que é imposto à criança por uma cultura, por uma sociedade ou por uma família. Ou seja, o comportamento do egoico é, sobretudo, resultado de uma estrutura psíquica que se forma a partir do desenvolvimento da criança e da sua relação com seu primeiro “Outro”, que geralmente é a mãe ou alguém que cumpra este papel. O que a criança leva para a vida são as normas e valores internalizados a partir dessa relação inicial para que se sinta segura e, a partir daí, formam-se os sintomas neuróticos.

Há que se observar ainda que existem dois pesos e duas medidas, ou seja, uma pessoa com um lado egoico muito fraco pode ser tímida demais e, talvez, tenha dificuldade em se afirmar, além de ser muito dependente de outras pessoas. Já um egoico master pode ser extremante ditador. Contudo, existem também aqueles egoicos que se comportam de acordo com situações, ou seja, aquela pessoa que pode ter um ego muito forte no trabalho, mas ser um gatinho manso e fraco em casa.

Lendo essa pequena tentativa de esclarecimento filosófico sobre o assunto que não tem nenhuma pretensão de caráter médico e apenas se baseia na diversificada literatura psicanalítica, você, leitor, talvez rememore pessoas e situações descritas neste script, ou até se “enxergue” em alguma “cena” citada. Mas saiba que, para explicar ainda melhor o ego, o pai da Psicanálise afirmou em seus tratados que os mecanismos de defesa existem conforme a organização do Ego e podem gerar reações mais conscientes e racionais. Mas aí já é outro assunto para outro papo!

Lula e Bolsonaro, principais lideranças do PT e PL. | Fotos: Agência Brasil.
O Fundo Eleitoral e a controversa aliança PT e PL

Fundo eleitoral representa desafio à democracia brasileira; interessante observar que polarização dos recursos pode direcionar eleições de 2026

Faltou Dizer
Tão desiguais, mas uns mais iguais que os outros

A renda da elite cresceu o triplo do restante do País; mais que discurso, a análise da desigualdade no Brasil aponta para a necessidade de medidas imediatas, incluindo revisão nas políticas tributárias para combater efetivamente a concentração de renda e promover uma distribuição mais justa dos ganhos

Por que o Cerrado é tratado como o patinho feio dos biomas?

Ton Paulo

Na semana passada, não faltaram comemorações do governo federal quanto aos dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), referentes ao desmatamento na Amazônia. De acordo com o Instituto, foram cerca de 5 mil quilômetros desmatados desse bioma em 2023. Parece muito (e é). No entanto, o número representa uma queda de quase 50% se comparado a 2022.

Os dados do Inpe foram um bálsamo imediato para as preocupações do governo em passar para o mundo e a população a imagem de estar no caminho de cumprir uma de suas principais promessas: extinguir o desmatamento ilegal da Amazônia. Pudera.

Vale lembrar que, neste mês de janeiro de 2024, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a União Europeia vai doar 20 milhões de euros (equivalentes a 100 milhões de reais) para o Fundo Amazônia, além das contribuições que estão sendo feitas individualmente por diversos países. Ou seja: as fichas do mundo foram apostadas com gosto no comprometimento ambiental de Lula, e ele sabe que não pode falhar nisso – sob o risco de empurrar o País de volta ao ostracismo no qual havia se metido no governo anterior.

No entanto, o que o governo parece esquecer de mencionar – e abordar, mesmo em que debates sobre o tema -, é que, enquanto o desmatamento na Amazônia caiu, o do Cerrado aumentou: e muito. Ainda conforme os dados do Inpe, a área desmatada do Cerrado em 2023 foi 43% maior que em 2022. O Instituto apontou ainda que foi a primeira vez em que uma área desmatada no Cerrado foi maior que a da Amazônia.

De acordo com o ICMBio, com base em dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que o Cerrado possua mais de 6 mil espécies de árvores e cerca de 800 espécies de aves. Acredita-se, ainda, que mais de 40% das espécies de plantas lenhosas e 50% das abelhas sejam endêmicas.

Ainda conforme o ICMBio, ao lado da Mata Atlântica, o Cerrado é considerado um dos hotspots mundiais, ou seja, um dos biomas mais ricos e também mais ameaçados do mundo.

Já o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) – sociedade civil sem fins econômicos – o Cerrado conta com aproximadamente 12 mil plantas catalogadas, das quais mais de 4 mil também são endêmicas.

Estamos falando de um bioma que cobre cerca de 25% do território nacional, perfazendo uma área entre 1,8 e 2 milhões de Km² nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e porções do Estado de São Paulo.

Por que, então, um bioma tão grandioso, tão vasto em vida – tanto em fauna quanto em flora – é tratado com tanto desprezo e desmerecimento? Por que os dados do desmatamento referentes ao Cerrado não ganham tanto destaque – e esmero na solução – quanto os da Amazônia?

O nome do Cerrado parece não entrar nem na argumentação do governo anterior para criticar o atual. Ora, erros para apontar não faltam, não é? Onde estão os (necessários) pareceres e censuras quando mais precisamos?

E aqui, vale dizer, não cabe qualquer comparação entre um bioma e outro, mas sim no zelo e no empenho (ou a falta desses) para preservar o que deveria ser alvo de orgulho e ênfase global, tal qual a Amazônia.

Enquanto o Cerrado continuar a ser tratado como o “patinho feio” dos biomas, a diversidade natural não só dele, mas a de todos os outros biomas que parecem não merecer um fundo de proteção só deles, com doações de organizações internacionais, continuará minguando. Talvez, nos lembremos da importância e unicidade de cada bioma quando a lista desses passar a refletir com fidelidade e o que gringos que vêm ao Brasil acham que aqui existe: a Amazônia e nada mais.

Humano, demasiado humano: o cinema e seu poder de nos lembrar o que realmente importa

Cynthia Pastor

O cinema muitas vezes antecipa tecnologias e tendências, outras vezes, a Sétima Arte só nos mostra a nossa humanidade. O clássico Blade Runner, de 1982, do magnífico diretor Ridley Scott, mostrava tecnologias ainda não existentes na década de 1980, como as telas, touch screen, o comando de voz para computadores, a engenharia genética da corporação Tyrrel. Tudo isso que nos chegou muito depois do filme dos anos 80.

Todavia, no peculiar longa-metragem “Nosso Amigo Extraordinário”, filme de 2023 e que parece ter caído no gosto da crítica e do público, nenhuma tecnologia especialíssima é antecipada, nadinha! A nave do alienígena é super simples, quase um carro popular dentro do que se vê em termos de efeitos especiais nas produções cinematográficas. Mas, afinal, o que o filme tem de grandioso? Sua imensa humanidade. Com a atuação singela do grande Ben Kingsley, que foi protagonista em filmes impactantes, como Gandhi, onde ele interpreta o grande líder político e levou o Oscar de melhor ator, nesta “pacata” película norte-americana ele vive Milton, um aposentado cheio de manias que mora em uma pequena cidadela na Pensilvânia.

Das relações pragmáticas do “American Way of Life”, Milton tem uma convivência fria e racional com a filha que mora na mesma cidade. Já a relação com o filho que não mora ali, é inexistente. Uma vida protegida tipicamente americana, sem sobressaltos e com uma rotina previsível que inclui ir a câmara municipal da cidade fazer pequenas reclamações que não irão mudar o mundo em absolutamente nada. É nessa construção que soma a solidão de um cara viúvo e sem amigos, que passa o dia a cuidar das suas flores no quintal ou vendo os mesmos programas de TV diariamente, que Milton começa a desenvolver um processo de demência.

O filme não se propõe a dar nenhum salto quântico existencial, justamente por isso, é tão humano. Tão humano como encarar uma nave espacial caída no seu quintal como algo normal. Sem sobressaltos, Milton acolhe o alienígena ferido. Aos poucos, com cuidado e sem preconceitos. Ele até tenta avisar a comunidade da cidade sobre a situação, mas não é levado a sério. E segue sua convivência com o extraterrestre que se empenha em consertar a nave para voltar para sua galáxia. Um ponto muito especial do filme está no fato de que o alienígena não fala. Sua comunicação é mínima, quase nenhuma. Mas o seu olhar tem muito a dizer e sua capacidade de ouvir, por fim, torna-se o elo com Milton, que estava ali vivendo sua solitude internalizada.

No desenrolar do roteiro, duas idosas também solitárias e literalmente esquecidas por suas famílias, juntam-se a Milton e a Jules (nome dado ao alienígena). Por fim, hospedar um extraterrestre, parece algo tão simples e viável quanto hospedar alguém que se está conhecendo agora. O ET não tem carisma, mas a maioria dos seres humanos também não tem! Pois é justamente toda essa situação “nonsense” que nos leva ao aspecto mais belo do filme. A solidão é fera, a solidão devora e muitas vezes é mais devastadora que a chegada de um ser de outro planeta. A indiferença e o tédio são mais esmagadores que viver algo totalmente inusitado.

Dirigido por Marc Turtletaub e escrito por Gavin Steckler, o filme Nosso Amigo Extraordinário (Jules, no original) merece ser visto como um filme humano, demasiado humano, sobre as coisas humanas, sobre o pouco que nos resta ou quase nada.

Aquela solidão que está impregnada na filosofia de Nietzsche e suas dimensões do corpus nietzschiano. Desse modo, o lugar de afirmação de um mundo humano, antropomórfico, aceita e assimila todas as suas metáforas e rompe com qualquer romantismo cinematográfico. Humano, demasiado humano.

Inteligências artificiais fazem roubo institucionalizado com artistas

Karla Ortiz é uma das artistas que teve os trabalhos utilizados para treinar inteligências artificiais sem sua autorização