A criminalização dos corpos negros no Brasil é um problema histórico e estrutural. Homens negros, em especial, enfrentam um cenário onde, frequentemente, são condenados antes mesmo de serem julgados. A sociedade os percebe, muitas vezes, como culpados pelo simples fato de existirem em espaços que não lhes foram tradicionalmente permitidos. Entretanto, ao abordar esse tema, é fundamental não relativizar as experiências e o sofrimento das vítimas de crimes como o assédio, que são profundamente dolorosos e devastadores, independentemente da cor do agressor.

O recente caso envolvendo o ministro Silvio Almeida traz à tona uma questão delicada e urgente. Mesmo sendo um homem negro, altamente instruído e ocupando um cargo importante no governo, ele não está isento de responder por suas ações, caso as acusações sejam comprovadas. A cor da pele não pode ser um fator de impunidade, e crimes como o assédio sexual devem ser tratados com a seriedade que merecem. As vítimas, mulheres que enfrentam inúmeras barreiras ao denunciar abusos, precisam ser ouvidas e amparadas. O silêncio, a dúvida ou a demora em agir diante de suas denúncias perpetuam a violência e a impunidade.

Por outro lado, é inegável que, em muitos casos, homens brancos são tratados com uma condescendência que raramente é estendida a homens negros. Eles podem cometer os mesmos crimes e, frequentemente, escapam de punições severas, seja pela influência que exercem, seja pelo racismo estrutural que permeia as instituições judiciais e sociais. No entanto, o fato de a justiça ser mais dura com homens negros não deve ser um escudo para aqueles que cometem crimes, tampouco deve ofuscar o sofrimento das vítimas, que carregam cicatrizes profundas e muitas vezes irreparáveis.

O caso de Silvio Almeida, se as denúncias forem comprovadas, reforça a urgência de se debater o assédio sexual como uma questão transversal, que afeta mulheres de todas as raças e classes sociais. É importante que o governo, especialmente o de um presidente que se posiciona como defensor dos direitos humanos, aja com celeridade e clareza, dando o exemplo de que não haverá tolerância para esse tipo de comportamento, independentemente da identidade do agressor.

É vital que a sociedade entenda que a justiça precisa ser equânime e rápida. Homens negros, como qualquer outro indivíduo, têm o direito de serem julgados de maneira justa, mas também têm o dever de responder por seus atos, especialmente quando esses atos ferem as liberdades e os direitos de outras pessoas, como o direito à integridade física e emocional das mulheres. As vítimas, sempre, devem estar no centro dessa discussão. Elas são quem mais sofrem, e é em torno de sua proteção que as políticas públicas devem se estruturar.

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