Marcelo Miranda: “O MDB continua sendo o maior partido do Tocantins”

04 novembro 2023 às 18h07

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Recentemente chamou a atenção uma ida do atual presidente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no Tocantins, o ex-governador Marcelo Miranda, a Brasília para uma reunião com o deputado Baleia Rossi, presidente nacional da legenda. A pauta do encontro foi sobre as eleições municipais. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Marcelo Miranda faz uma reflexão sobre a participação da legenda na eleição de 2022 e sobre o fato de não ter eleito nenhum representante nas esferas legislativas daquele pleito.
Para Marcelo Miranda, o MDB precisa olhar para frente, conquistar novas lideranças e, porque não dizer, trazer de volta outras lideranças. Ele diz que o partido vai procurar disputar prefeituras, mas onde não for possível pode apoiar uma chapa ou compor a majoritária indicando vice.
Miranda diz ainda ser fundamental a participação das mulheres e da juventude e revela que o partido já trabalha para levar estes segmentos para o debate político.
Quando eu deixei o governo em 2018, nós não tivemos mais candidatos ao governo do Estado
O MDB é um partido que tem uma grande história. Tem um papel fundamental no fim da ditadura militar. Sempre foi e continua um partido grande no Tocantins, mas está sem deputados estaduais e federais no Tocantins. Que reflexão o senhor faz sobre isso?
Desde quando eu deixei o governo em 2018, nós não tivemos mais candidatos ao governo do Estado. E tínhamos bons nomes para disputar a eleição. Em 2022 me confiaram e me deram a oportunidade de presidir o partido. E aceitei como um grande desafio, da mesma forma quando fui deputado estadual, como presidente da Assembleia e como governador por três vezes. Bem, iniciamos ali, juntamente com a executiva do partido, juntamente com os eminentes deputados estaduais, com a deputada federal Dulce, com o senador Eduardo Gomes, que veio para o MDB um trabalho de recrutamento de líderes, de companheiros no interior, para que a gente pudesse continuar fortalecendo o partido. Bem, fomos para uma eleição majoritária, estadual, onde tivemos realmente perdas.

Assumimos o compromisso de apoiar o então candidato a governador, Ronaldo Dimas (PL). O vice foi escolhido pela executiva, o ex-deputado federal, Freire Júnior. E o nosso compromisso aumentou mais ainda de apoiar o Ronaldo Dimas. Fomos para a campanha. Bem, não tivemos sucesso. Não elegemos nenhum deputado estadual. Lamentavelmente o deputado Elenil adoeceu, coitado, num momento que ele estava em ascendência política, um grande líder, de repente foi acometido de uma doença, que também o limitou de fazer campanha. Bem, vieram os resultados. Perdemos para estadual, perdemos para federal. Consequentemente, tivemos que parar e pensar onde nós erramos, onde nós poderíamos recomeçar.
O MDB continua o maior partido do Tocantins, mesmo sem representantes na Assembleia e também na Câmara Federal
Após esta avaliação, chamamos os companheiros para sentar e rediscutir o MDB. Eu entendo que é de extrema importância uma crítica construtiva, sobre os acontecimentos de um passado bem próximo, uma eleição, onde nós fomos derrotados e com isso a sigla partidária se enfraqueceu, sendo ainda, quero deixar bem claro, o maior partido no nosso Estado do Tocantins, mesmo sem representantes na Assembleia e também na Câmara Federal.
Estamos visitando município por município, revalidando, fazendo os diretórios, para que a gente se prepare para as eleições municipais

E como é que o partido está se organizando para as eleições municipais de 2024?
É importante frisar que nós mantivemos um número importante de prefeitos e também vereadores, mais de 200 vereadores. Então, como o MDB se fragilizou na Assembleia, se fragilizou na Câmara Federal, nós avaliamos este quadro dos municípios. O senador Eduardo [Gomes] já tinha deixado o partido, mas deu a sua colaboração, como todos os deputados. Aqui eu tenho que ressaltar o belíssimo trabalho que a então deputada Dulce Miranda fez, mesmo sozinha na Câmara Federal, como única representante do MDB, fez um trabalho extraordinário. Mas não tivemos a felicidade da sua reeleição por causa do coeficiente eleitoral.
Bom, tivemos que recomeçar. E é o que nós estamos fazendo, conversando e visitando município por município, revalidando, fazendo os diretórios, para que a gente se prepare para as eleições municipais. E teremos muitos nomes, sim, a apresentar para disputar, tanto na esfera do Executivo, como para o Legislativo. Queremos fortalecer o Legislativo com nomes bons, que queiram realmente vestir a camisa do MDB para disputar as eleições e ter projetos para alcançar metas durante os seus mandatos.
Vamos ter nomes para fazer um número bom de vereadores, para que o MDB volte a ter representação em todos os municípios
E dentro dessa estratégia o MDB vai apresentar candidatos em todos os municípios? Como é que está esse trabalho? O senhor está viajando? Está visitando os municípios? Está conversando com as lideranças? Como é que é a orientação sobre os projetos para as prefeituras?
Eu converso praticamente todos os dias com o Tocantins inteiro. A cada dia eu falo com líderes de muitos municípios. A gente está sempre trocando ideias. Temos realmente algumas dificuldades em alguns municípios, porque o MDB realmente se fragilizou e é onde nós estamos tentando reconstruir o partido. Como eu disse e volto a reafirmar, estamos procurando fortalecer o partido para apresentar nomes. Não digo que em todos os 139 vamos ter nomes para o executivo, mas temos certeza de poder compor uma chapa majoritária, se não puder ser na cabeça, vamos apresentar um vice com certeza. E queremos fortalecer também as câmaras municipais, vamos ter os nomes para fazer um número bom de vereadores, para que o MDB volte a ter representação em todos os municípios. Olha, tem município que nós temos nove vereadores, continuaremos com nove vereadores.
Tem município que nós temos sete vereadores, de nove. Temos município que não temos nenhum vereador, mas em compensação no município do lado, temos cinco, seis. Não temos vereador na capital, nós tínhamos um, que era o vereador Rogério [Freitas], deixou a sigla para se candidatar a deputado estadual na eleição passada. Então nós temos também que fazer um trabalho na capital muito forte, e é o que nós estamos procurando fazer. Então, hoje, nós estamos trabalhando no sentido de fazer os diretórios, para apresentar nomes à altura, para a eleição majoritária e proporcionais. Essa é uma das metas.
Esse é o preparo do cidadão para enfrentar uma política hoje no Brasil. Ele tem que estar preparado, tem que ter uma base
E como anda o trabalho da Fundação Ulisses Guimarães neste processo de preparação para as eleições de 2024?
A Fundação Ulisses Guimarães é séria, é uma fundação – não desmerecendo as outras fundações – mas é uma fundação que tem propostas e metas a serem alcançadas. E uma das metas é preparar os nossos companheiros para o embate futuro. Essa é a meta da fundação, que tem pessoas, tem companheiros preparados, tem palestrantes e tem os projetos a apresentar. Então a Fundação Ulisses Guimarães que está sob o comando da Tayane, uma jovem que é uma profissional da área de Direito, que junto com a sua equipe, está viajando o Estado e trazendo as pessoas para um bate-papo, para que as pessoas se preparem para ser. Tem aquele ditado, “o que eu quero ser, eu vou ser”. Eu sempre uso essas palavras, “eu quero ser, eu vou ser”. Esse é o preparo do cidadão para enfrentar uma política hoje no Brasil. Ele tem que estar preparado, ele tem que ter uma base. Então essa base, o MDB, está tentando voltar a ter a base de ser um partido que foi num passado bem próximo, sem desmerecer nenhum partido político. Mas nós conseguimos ainda ter nomes, a altura, para disputar qualquer eleição.
Olha, você pode chegar em qualquer município desse Estado que encontra um emedebista
O MDB é um partido que tinha uma militância grande. Como é que está isso hoje? É isso que a Fundação está fazendo recompor a militância?
Olha, essa militância precisa ser mais oxigenada. E a Fundação entrou para oxigenar aqueles militantes, aquelas pessoas que querem fazer parte da política, as novas gerações. Olha, você pode chegar em qualquer município desse Estado que você encontra um emedebista. Aí você vai conversar com um jovem, “ah, o meu avô foi do MDB, do PSD, o meu pai, meu tio”, então as novas gerações precisam entender que a boa política começa dentro de casa. Nós temos que resgatar os jovens na política da juventude, nós temos que trazer a mulher para dentro da política, hoje nós temos poucas representantes. Um exemplo, dentro do nosso Estado, temos uma representante do Congresso Nacional, que é a professora Dorinha, do Senado Federal, que vem fazendo um brilhante trabalho. A gente tem que reconhecer, como os deputados federais, como os outros senadores, cada um tem um jeito de trabalhar. Mas só temos uma mulher.
Tenho que ter coragem de enfrentar esses desafios de trazer de volta aqueles companheiros que nos deram força no passado

Mas o Tocantins não tem nenhuma representante da Câmara Federal.
Nós precisamos, e isso eu tenho dito para os companheiros, tragam as mulheres para dentro do MDB. Nós tivemos mulheres comandando o país. A ex-presidente Dilma [Rousseff]. Tivemos as mulheres disputando a eleição presidencial, como a Simone Tebet (MDB) senadora do Mato Grosso, a senadora Soraya Tronic, (PODE) no Tocantins tivemos a senadora Kátia Abreu, nós tivemos a deputada Dulce [Miranda], tivemos a saudosa Dolores Nunes como parlamentar, tivemos Josi [Nunes – prefeita de Gurupi], tantas outras mulheres que tiveram, Goiaciara [Cruz], a viúva do finado João Cruz, que hoje também já se foi para o lado do nosso pai Celestial. Quantas mulheres! Agora nós precisamos colocar no interior a prática de dizer que a mulher é mais importante neste processo e resgatar também a juventude nesse momento para discutir projetos alternativos para o nosso Estado.
E o MDB quer fazer parte disso tudo. O MDB quer voltar a esse cenário. Agora, eu tenho ineficiência? Qualquer um tem. Ninguém é perfeito, ninguém sabe tudo. Eu já tive muitas vitórias. Você já imaginou, em 35 anos de vida pública, eu fui governador três vezes, pela vontade de Deus e do povo, fui deputado três vezes, presidente da Assembleia, fui eleito senador, não tomei posse. Hoje, presido o maior partido do Estado e, por que não dizer, do Brasil. Então, eu não posso reclamar. Eu tenho que ter coragem de enfrentar esses desafios de trazer de volta aqueles companheiros que nos deram força num passado bem próximo, para que as pessoas, os mais jovens, entendam a importância de uma sigla partidária, de uma disputa eleitoral, e voltar a ter a coisa mais importante da política brasileira: palavra.
Como trazer o jovem para a política? Lá atrás, muita gente ia para a política porque a estava no movimento estudantil, estava lutando contra a ditadura militar, a luta contra a ditadura colocou muitas pessoas na política. Hoje, como é que você atrai o jovem para dentro de um partido político?
Primeiro você tem que ter políticas públicas, apresentar políticas públicas. Entender o que é o jovem, e o que ele precisa. Nós vivenciamos a ditadura, vimos o regime militar. Agora, o jovem para vir, ele só vem por algo. Ele vem para disputar eleições. Hoje tem muito jovem no Congresso Nacional com um pensamento que a gente tem que respeitar. E eu acho que o Brasil não tem que ter direita, esquerda, centro, não. O Brasil é o Brasil.
Então, nós temos hoje no MDB a Secretaria da Juventude. Nós temos hoje algo que possa vir a atrair. Eu falo, discutir políticas públicas. Qual é a política que tem que discutir com a juventude? Aquela que ele entenda, para ele vir para perto, para ele entrar, para ele vir para a política. Então ele diz: “eu não sou direita e nem esquerda e nem centro. Eu sou um jovem que quero vencer”.
E para vencer, primeiro, ele tem que entender que ele tem que cair na realidade atual. Ele tem que entender a realidade. Ele tem que estar em uma escola onde ele aprende que na sua casa não se fala em arma. Na sua casa não se fala em matar. Na sua casa se fala em discutir com o próximo um projeto de reestruturação do seu município, um projeto de reestruturação do seu estado. “O que eu quero para o meu estado? Eu quero para o meu estado rodovias pavimentadas. Eu quero para o meu estado que eu possa chegar na minha propriedade, no meu país, ter uma estrada perfeita. Eu quero ter uma educação digna.”
Eu, jovem, preciso saber que eu estou entrando na política para ter uma juventude assistida, ter uma educação consolidada. Uma saúde de qualidade. É isso que eu quero para os nossos jovens e para as mulheres. O Tocantins ainda tem espaço. O Tocantins tem gordura para se queimar em todos os setores. Mas só vai queimar, só vai à frente realmente, se nós trazermos os nossos jovens, trazermos as mulheres, trazermos todos os segmentos organizados da sociedade para a mesa, continuar discutindo os projetos para o engrandecimento do nosso Estado.