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Enquanto o Brasil celebra o Dia do Professor com homenagens, a categoria no Tocantins clama por algo mais concreto: ser ouvida e valorizada. Não é um pedido. É um grito.

A meritocracia, vendida como caminho para o sucesso, revela-se no Brasil um sistema desigual, onde esforço e oportunidade nunca começam no mesmo ponto

No ritmo acelerado da vida moderna, é comum que os pequenos momentos do dia a dia sejam deixados de lado por muitas pessoas

Professores de Ciências Sociais realizam aula de campo na Agrotins e aplicam técnica de observação participante para analisar criticamente a maior feira do agronegócio da região Norte

Por Ives Marcelo Pinheiro Gonçalves
A não lucidez, como uma experiência da mente e da interioridade, teima em me acompanhar; alguns me julgam por isso, dizem: um boêmio dado a muito vinho, que procura desculpas para cometer infrações. De verdade, quisera eu que de fato estivessem certos; não que me agradaria desse meu comportamento, mas, ao menos, aproveitaria o momento.
Essa inquietação mental parece como as ondas revoltas do mar, que podem até se acalmar, mas nunca, nunca cessam! Ou será que melhor dizer como um dia com fortes tempestades, com raios e trovões, quedas de árvores, alagamentos, escuridão? No dia seguinte um silêncio ensurdecedor ao amanhecer e, por volta do mais depois, máquinas, caminhões, buzinas e muito falatório de homens na rua tentando amenizar o estrago que já fora feito.
Um dia tranquilo de paz que te deixa inquieto, achando que algo de ruim vai acontecer a qualquer momento, com você ou com um dos seus, o que é ainda pior. O dia passa, e você esperando uma notícia ruim, que não se concretiza; mas, ao final, você está esgotado, e a tal notícia ruim não veio – ah, graças a Deus!
À noite, ao deitar-se, novamente um silêncio que te incomoda, o som da geladeira trabalhando intensamente, grilos e corujas cantarolando - tudo isso e, apenas isso, é o suficiente para afugentar o sono.
Os conselhos daqueles que te amam é: relaxa, isso vai passar! Você apenas está fatigado de tanto trabalhar; tira umas férias e tudo ficará bem. Mal sabem eles que isso não vai passar – oh, pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que dizem! Não sabem que você está transbordando o excesso de tudo que sempre se acumulou e, como um balde que nunca, mas nunca mesmo, jamais, se secará: continuará a transbordar.
Continuam eles: procure ajuda profissional, vá ao psiquiatra e, também ao psicólogo, mas tem que ser um psicólogo comportamental. Como os agradeço por tais conselhos! Mas o que eles não sabem é que já convivo com isso desde a infância, como se fosse algo genético, que eu trouxe comigo ao nascer. Terá sido desde sempre?
E sim, só agora entendo que aquilo que atribuía a uma timidez crônica, nada mais era do que inquietação introspectiva, com a qual teria que lutar por toda a vida. Se tenho momento de alegria na vida? Sim, muitos, mas são como as chuvas do caju em meio as longas estiagens, porque a inquietação teima em aparecer quando estou desprevenido, sem ao menos avisar. E nesse momento prefiro a solidão, do que a mais agradável companhia - por isso lhe peço perdão, porque o problema não é você, como companhia, mas minha alma desassossegada pouco receptiva a inter-relações.
Engraçado, parece-me um contrassenso este comportamento, pois sou amante, desde sempre, das relações humanas, inclusive grande apreciador da comunicação humana; mas, de fato, sempre gostei também de ser um observador das conversas alheias, talvez com a intenção de entender o comportamento humano e, suas inquietudes.
Nunca fui atrevido ao ponto de ser protagonista de alguma conversa, de seduzir para a conversa gratuita, fortuita, ou apresentação pomposa de trabalhos, pouco importa se barroco ou rococó linguageiro. Sempre gostei de estar nos bastidores; com isso talvez tenha perdido os bondes de oportunidades que se reservam aos aventureiros.
Será que a palavra que não vai, então ressentida, ressequida, se vinga cá por desatino? Atormenta a alma e espezinha a mente? Enquanto escrevo, não é lá fora a calmaria, é aqui, olha, aqui dentro!
Ives Marcelo Pinheiro Gonçalves é fonoaudiólogo e escritor. Mestre em Ensino em Ciências e Saúde. Autor de Sobreviventes, que em breve está disponível na Amazon.

Por Thiago Barbosa Soares
Um dos saberes mais valorizados nas sociedades ocidentais é o saber médico. Não apenas por curar males do corpo e até da mente, também, em inúmeros casos, por fazer da vida mais suportável, quando não, por trazer maior simetria estética à compleição física de quem a deseja. Uma das profissões mais valorizadas que, mediante remuneração relativa à carga horária trabalhada e esforço despendido, concorre, no imaginário coletivo, para determinar como se pode estar mais saudável, viver mais e melhor por meio de medicamentos, procedimentos cirúrgicos e aconselhamentos especializados. Segundo essa perspectiva, o saber médico confere a quem o detém poderes quase divinos somente comparados, do ponto de vista do funcionamento do circuito coletivo, aos de um juiz, uma vez que versa sobre a vida e como essa pode operar. Todo questionamento acerca dos dizeres médicos, conforme o próprio saber médico, é um tipo de “afronta” a quem realmente possui o saber científico.
Diante desse cenário segundo o qual o discurso médico enquadra-se como um reflexo das desigualdades de saber-poder, este artigo discute a notícia “Nova norma permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos, incluindo os controlados; entenda” (Carvalho, 2025), publicada em 20 de março de 2025, pelo portal virtual Jornal Opção Tocantins, procurando revelar como conflitos de interesses profissionais são mediados por estruturas de saber-poder e estratégias de legitimação, uma vez que, como destacam Foucault (2004) e Bourdieu (2007), o discurso médico-farmacêutico não é neutro: é um campo de batalha onde se disputa quem tem o direito de dizer sobre o corpo, a doença e a cura.
Uma breve discussão
Sob a ótica da governamentalidade (Foucault, 2008), a resolução articula uma estratégia de descentralização sanitária típica das racionalidades neoliberais (Rose, 1999), nas quais o Estado transfere responsabilidades para atores não médicos, visando otimizar recursos e ampliar o acesso a medicamentos. No entanto, essa aparente democratização esbarra em mecanismos de controle sutis: o RQE, embora habilite farmacêuticos, mantém a regulação estatal sobre quem pode prescrever, reinscrevendo a lógica disciplinar sob novas roupagens. A norma não rompe com a governamentalidade, mas a reconfigura, expandindo o campo de atuação farmacêutica sob vigilância institucional. Aqui, a biopolítica opera em duplo movimento: ao mesmo tempo que fragmenta o monopólio médico, produz novos corpos dóceis, farmacêuticos especializados, cuja autoridade depende de certificações técnicas. Essa ambiguidade expõe o paradoxo do neoliberalismo: a descentralização é sempre acompanhada de recentralização via regulação.
Ao ampliar as atribuições farmacêuticas por meio de mecanismos como o Registro de Qualificação de Especialista (RQE), a resolução desestabiliza a formação discursiva biomédica hegemônica, historicamente centrada no monopólio médico sobre o diagnóstico e a prescrição. Essa contranarrativa, ancorada em termos como “Farmácia Clínica” e “especialização", opera como um ritual de veridicção (Foucault, 2010), isto é, do dizer realmente verdadeiro, redefinindo quem detém autoridade para intervir no corpo biológico. Contudo, a resistência das entidades médicas, que mobilizam enunciados como incapacidade de diagnóstico, evidencia a violência epistêmica inerente a disputas por jurisdição profissional, nas quais a manutenção de regimes de verdade (Foucault, 2012) depende da exclusão de saberes e poderes concorrentes. A norma, desse modo, transcende a esfera técnica, tornando-se um artefato político que reescreve as regras do jogo discursivo, questionando quem pode enunciar verdades sobre a vida e sob quais critérios.
Considerações finais
A judicialização da norma, exemplificada pela invalidação da resolução de 2013, ilustra a contingência histórica da formação discursiva biomédica e a centralidade do judiciário como instância arbitral do verdadeiro. Ao decidir sobre a legitimidade de enunciados concorrentes (autorização vs. incapacidade), o sistema jurídico materializa a governamentalidade em ação, reforçando alianças entre saber médico e poder estatal.
Essa dinâmica expõe como o direito performatiza hierarquias disciplinares, reafirmando a medicina como ciência soberana da vida (Foucault, 2004), ao mesmo tempo que revela a fragilidade de fronteiras profissionais outrora tidas como imutáveis. Nesse horizonte, a resolução do CFF, ao tensionar essas estruturas, demonstra que as formações discursivas não são estáticas, mas produtos de lutas materiais e simbólicas, nas quais a biopolítica (Foucault, 2008b) atua como tecnologia de regulação da governamentalidade, incluindo e excluindo agentes conforme estratégias de controle.
Portanto, como foi visto, a norma insere-se em uma racionalidade neoliberal (Rose, 1999), que descentraliza responsabilidades sanitárias sob o discurso da eficiência, mas mantém mecanismos de vigilância, como o RQE, reinscrevendo a lógica disciplinar em novas roupagens. Essa aparente democratização do acesso a medicamentos esbarra no paradoxo neoliberal: a descentralização é acompanhada de recentralização regulatória, produzindo corpos dóceis (Foucault, 2014) cuja autoridade depende de certificações técnicas. Assim, a resolução não rompe com a governamentalidade, mas a reconfigura, expandindo o campo farmacêutico sob tutela institucional. Sob a ótica discutida aqui, o caso evidencia que disputas por saber-poder não se limitam a conflitos profissionais, mas redefinem os próprios critérios de legitimidade que organizam a vida coletiva, reafirmando que, na economia do poder, até mesmo uma vírgula pode ser um campo no qual se decide o destino de vidas.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.
CARVALHO. Júlia. Nova norma permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos,
incluindo os controlados; entenda. Jornal Opção, Tocantins, 2025. Disponível em:
prescrevam-medicamentos-incluindo-os-controlados-entenda-555271/. Acesso em: 17
abr. 2025.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Tradução de Roberto Machado. 6. ed.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica - Curso dado no College de France
(1978-1979). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros - Curso no Collège de France (1982-
1983). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 8.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel
Ramalhete. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
ROSE, Nikolas. Powers of Freedom: Reframing Political Thought. Cambridge:
Cambridge University Press, 1999.

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