Amastha: “A gestão da prefeitura no transporte público foi a maior barbaridade que ela cometeu”
17 novembro 2024 às 01h20
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Carlos Enrique Franco Amastha é colombiano de Barranquilla, naturalizado brasileiro desde 1990 e radicado em Palmas desde 2007. Empresário no ramo de educação a distância e de shopping centers, elegeu-se prefeito de Palmas em 2012 pelo PP, com 49,6% dos votos. Foi reeleito em 2016, já pelo PSB, após conquistar 52,3% dos votos válidos. Disputou o governo do Tocantins nas eleições ocorridas em 2018, tanto a suplementar quanto a ordinária, entretanto, não obteve êxito. Em 2022, disputou uma cadeira no Senado Federal pelo PSB, obtendo 100.649 votos, insuficientes para sua eleição. Em 2024, Amastha planejava disputar novamente a Prefeitura de Palmas, mas no dia da convenção decidiu concorrer ao cargo de vereador. Foi o quinto mais votado da capital e se destacou como um importante cabo eleitoral para a vitória de Eduardo Siqueira Campos (Pode).
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Carlos Amastha fala sobre sua recente viagem a Brasília em busca de recursos para projetos em Palmas, detalha os planos para apoiar a nova gestão de Eduardo Siqueira Campos e não poupa críticas à atual prefeita, Cinthia Ribeiro, e ao governador Wanderlei Barbosa, abordando temas como transporte público, saúde e educação na capital
Amastha, o senhor fez uma viagem essa semana para Brasília. O que foi fazer lá? Como foi essa agenda?
Foi muito produtiva essa visita. Eu digo que sou vereador federal. Primeiro, conversamos com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), pessoa com quem tenho uma relação de amizade de muitos anos, e foi muito bom porque foquei justamente nas coisas que acho fundamentais para desenvolver o nosso município.
Tanto esse movimento econômico quanto o social, a gente tem que gerar muito emprego e muita renda. Todos nós sabemos que Palmas, para que ela cresça tem que ter o trabalho, E para o trabalho o público é o principal indutor. Então, acho que foi muito importante essa eleição do Eduardo porque estamos resgatando todo esse sonho, então foquei principalmente nisso.
Também posso falar que dentro do Ministério da Indústria e Comércio tem uma série de programas e projetos que nos interessam sobremaneira, e o ministro se colocou à nossa disposição. A equipe já foi posta à nossa disposição para vivermos essa transversalidade e para vermos quais tipos de projetos podemos implantar aqui em Palmas com recursos do Ministério da Indústria e Comércio. Além de ministro, ele é vice-presidente da República e é uma pessoa muito influente no poder público, que tem o maior apreço por Palmas, pelo Tocantins, pelo Eduardo Siqueira Campos, pelo Amastha. Na sequência, fui ao ministro Wellington Dias (PT), de Desenvolvimento Social. Também foi uma reunião fantástica porque ele já nos passou uma série de projetos e colocou a equipe técnica à disposição para encontrarmos sinergia e trabalharmos em Palmas esses projetos.
E a cereja do bolo da visita ao ministro Wellington foi a confirmação de Palmas como capital do Matopiba.
Era um sonho antigo, resgatado agora com Eduardo Siqueira Campos, que sonha com a mesma coisa. O ministro Wellington foi muito nobre nesse sentido. Ele gosta demais dos nossos vizinhos do Piauí e entende perfeitamente — ouvi da boca dele — que a capital do Matopiba é Palmas. Não é Teresina, por causa da distância, muito menos Salvador, nem São Luís. Então ele concorda e apoia essa ideia. Estive falando com o nosso prefeito, fiz videochamada com ele dos três ministérios. Porque, afinal de contas, tudo isso só vem a acontecer se o nosso prefeito quiser.
Eu sou um fiel soldado que está colocando minhas experiências, meus projetos, tudo a serviço do mandato dele.
Fiz questão de visitar os três ministérios e ligamos para ele. Foi muito bom com o ministro Wellington pela parte do desenvolvimento social e pela consolidação de Palmas como capital do Matopiba. Depois, fui ao Márcio França (PSB), que é um companheiro, uma pessoa fantástica. E olha o nome do ministério dele: Ministério do Empreendedorismo dos MEIs e das Pequenas Empresas do Brasil. Precisa falar mais alguma coisa?
Isso é tudo que Palmas precisa e tudo que eu gosto de fazer. O ministro pediu ao nosso prefeito que criasse uma secretaria espelhada exatamente no Ministério para poder fazer todos os convênios e projetos através da Secretaria de Palmas junto com o Ministério. Foi uma agenda maravilhosa.
Um vereador fazendo três ministros num dia só!
Isso demonstra que Palmas tem prestígio, que o Eduardo tem prestígio e o Amastha tem prestígio. Eu sempre digo que com bons projetos e com credibilidade, recursos não faltam para uma gestão pública. Acho que conseguimos resgatar esse sentimento.
Então, justamente sobre esse apoio ao Eduardo Siqueira Campos, quando se deu? Durante a pré-campanha, o senhor ainda estava com essa pretensão de se lançar, quando foi que o senhor decidiu? Foi durante a entrega do Plano 40?
Eu era pré-candidato a prefeito, sem desconsiderar ou faltar respeito à doutora Lúcia Viana (PSOL). Ela não tinha chance, não tinha força política para essa eleição. Nós tínhamos então o Geo (PSDB) com o apoio da prefeita, a Janad (PL) nem preciso falar que tinha todo o apoio do mundo. Do outro lado, tinha o Eduardo e o Amastha. O Eduardo tinha 30 segundos de televisão, sozinho, só com o Agir, que não tem tempo de televisão, e o Amastha com o PSB, 30 segundos. Aí eu fiz uma leitura:
“Digo isto aqui, tá muito difícil. Eu gosto de coisa difícil, mas a gente precisa reconhecer quando a missão é uma missão impossível.”
Eu ia ser absolutamente atropelado pela máquina da prefeitura, que demonstrou sua força, pegou um candidato fraco, que estava com 7% de intenções, e entregou com 28%.
A Janad, em nenhuma circunstância, ia cair de 35%, porque tinha 10 partidos, 217 candidatos a vereador e com… vou mudar a palavra porque ainda posso ser processado, é melhor esperar já que a imunidade parlamentar só começa no dia primeiro. Então, ela, com a maior suposta compra de votos da história da humanidade, ressalto aqui o “suposta”. Aí, depois, quem tem que apurar isso é a Justiça.
Então, fazendo a conta, 35% da Janad, 30% do Geo, sobrava 35% para disputar com o Eduardo. Ele fazia 20 e eu 15 ou eu fazia 20 e ele 15. Quem ia pro segundo turno era o Geo, não era o Eduardo nem o Amastha. Aí eu falei: “Olha, se tem uma maneira de vencer essas máquinas, é através do Eduardo.” A gente esteve em lados diferentes em 2012; depois, nunca mais.
Eu sou um daqueles que respeita a história.
Eu só estou aqui por causa do José Wilson Siqueira Campos,
por causa do sonho desse homem que viabilizou esse estado, essa capital maravilhosa, e o Eduardo faz parte dessa história como prefeito que foi, como senador brilhante que foi, como deputado. Eu entendia que a maneira dele devolver para Palmas o seu rumo era através do Eduardo. Por isso, fui lá e declarei apoio para ele. Falei: “Eduardo, eu não tenho condição, eu não tenho chance. Juntos, eu acho que a gente se viabiliza, consegue dar musculatura para que você consiga ir pro segundo turno.” Era uma eleição do impossível. Eu estava falando isso com o Eduardo.
Falei para ele: “Como a gente conseguiu vencer essa eleição, com 30 segundos na televisão, contra 2 minutos e pouco do Geo e contra 7 minutos da Janad, como?” Isso ratifica o que eu sempre disse: Palmas nunca esteve à venda. O dinheiro faz um estrago terrível, faz. Mas, no final, prevaleceu o voto de opinião, e todo mundo sabe que foi uma campanha muito miúda. O Eduardo fez uma campanha de rua, de sentimento, e está aí. Agora, o que a gente não pode é decepcionar o povo de Palmas.
Amastha, o senhor é muito reconhecido como empresário e empreendedor. A amizade com o Luciano Hang, que fez uma doação e tanto para sua campanha, como é essa relação com ele?
A gente construiu através do tempo essa amizade. Essa relação com ele tem mais de 20 anos. Em 2003, quando lancei o Floripa Shopping, em Florianópolis, uma das empresas que a gente foi procurar foi, obviamente, a Havan, que estava naquele momento em pleno desenvolvimento, e a gente construiu uma sólida amizade, por causa de princípios, conceitos. Porque eu nunca na vida coloquei o Luciano numa fria, e ele também não. Ele todo ano vem no meu aniversário, participa; ele é um dos grandes empresários do Brasil.
Eu tenho que lembrar que a Havan não veio para Palmas com o Capim Dourado; ela veio depois, comigo, como prefeito de Palmas. Então, tem que ficar claro que não era para meu benefício, era para o benefício da cidade. A Havan de Palmas foi a primeira do Norte do Brasil, e olha quantas outras cidades importantes têm o Norte do Brasil. Eu tive que convencer o Luciano que a primeira tinha que ser em Palmas, e hoje, todo santo dia, a Havan de Palmas disputa entre as três melhores lojas do Brasil. Tem dias que ficamos em primeiro lugar. Por isso, eu tenho crédito com o Luciano. Outra coisa, eu foquei em convencê-lo a fazer uma loja na região sul.
No primeiro momento, os comerciantes ficam assustados, e eu respondo o mesmo que respondi quando fizemos o Capim Dourado Shopping. Quando o shopping foi construído, diziam que ia quebrar o comércio local. Não quebrou coisa nenhuma! Muito pelo contrário, isso profissionaliza e potencializa; você leva mais clientes para a região. Todo mundo ganha. E eu posso garantir uma coisa: não se resume ao Luciano.
Eu acho que conheço praticamente todos os grandes varejistas do Brasil e muitos dos grandes do mundo, e vou fazer o que sempre fiz, que é levantar a bandeira de Palmas.
Isso retoma o início da nossa conversa, minha visita a Brasília, buscando desenvolvimento social, desenvolvimento econômico, e quem faz o desenvolvimento econômico não é a prefeitura; é a iniciativa privada.
Agora entrando em uma das polêmicas dessa eleição, a proximidade do senhor com o Eduardo causou alguma estranheza com o Vanderlei Luxemburgo (Pode), que, a gente lembra, chegou a chamá-lo de traidor?
E o Raul Filho? Já aproveita e coloca ele também na conta. Com relação ao Vanderlei, não tive nenhuma conversa com ele. Ele foi meu adversário e hoje está junto com o Eduardo.
Olha que coisa incrível: o Eduardo ligou para cumprimentar o Raul pelo aniversário dele, e eu estava junto. Ele colocou no viva-voz, e eu cumprimentei o Raul. As relações humanas não devem ser misturadas com questões políticas, muito menos com questões de gestão. Eu sempre diferenciei muito bem as coisas. O prefeito é o Eduardo Siqueira Campos. Quem sou eu para escolher com quem ele anda?
Para ele, o Luxemburgo foi importante; o apoio dele veio antes do meu apoio.
Ele se filiou ao Podemos, está no partido do prefeito, e o Raul tem um povo que gosta dele.
Então, ele adicionou forças, e ele que tem que administrar. Quem tem que administrar é o prefeito, não sou eu. Eu não vou causar nenhum inconveniente ao prefeito e suas escolhas. São escolhas dele; vou respeitar e cumprir minha obrigação.
Outro desafeto do senhor, que agora também está ao lado de Eduardo, é a prefeita Cinthia Ribeiro. Como está sua relação com ela?
Eu não a chamaria de desafeto; para mim, ela é absolutamente irrelevante.
Não guardo nenhum sentimento. Se você me pedir para fazer um julgamento, ela agiu absurdamente errado. Vamos lá, sem nenhuma falsa modéstia: isso que fiz em Brasília, se ela não tivesse rompido com a gente, você não acha que eu teria passado esses seis anos procurando investimentos para Palmas, políticas públicas, tudo para engrandecer a gestão de quem? Dela, certo? Diferente do Eduardo Siqueira Campos, que é um homem maduro, experiente. Ele ficou feliz com minha agenda lá em Brasília. Está certo?
Ela (Cinthia) achava que ficava ofuscada com o tamanho do Amastha. Acho que minha sombra era grande demais para ela porque diminuía o tamanho dela.
Vou te falar uma coisa que sempre tive como princípio: como gestor, privado ou público, sempre tive gente melhor do que eu na minha equipe.
Minha capacidade era de diretor de orquestra, mas o diretor não toca violino melhor que o violinista, nem o piano melhor que o pianista, mas quem dirige a orquestra sou eu. Eu sempre reuni os melhores dos melhores. Poxa, o que eu entendo de educação? O que eu entendo de saúde? Para fazer uma gestão de excelência, eu tenho que trazer o melhor. Acho que ela foi muito infeliz nessa opção de nos trair desde o primeiro momento, porque poderíamos estar juntos e poderíamos ter construído uma opção política com muita musculatura nesse momento. E não foi o que aconteceu.
Eu ainda a procurei na pré-campanha pedindo que me apoiasse, e novamente não quis. Teve o seu candidato, foi derrotada e ela não veio para o Eduardo sem custo nenhum; veio obrigada.
Depois das agressões, ela entregaria a Janad? Não podemos dizer que ela teve opção. Ela não teve nenhuma opção. Eu sei que o prefeito não deve nada para ela. E se amanhã a Cinthia aparecer em alguma coisa da gestão, não vão dizer que sou eu que estou nem ajudando nem prejudicando ela.
Mas essa traição custou caro para Palmas, porque poderíamos ter evoluído muito mais.
A Cinthia já falou mais de uma vez que quer ser candidata a governadora em 2026. Como o senhor enxerga essa possibilidade?
Em que estado? Ela nunca desceu a rampa, nunca tirou os papéis da gaveta. Vamos ver o que vai ser nesse primeiro de janeiro. Ela tem tanta coisa para responder, tanta coisa que aconteceu de errado nesses anos. Vai ter muito trabalho, e eu não vejo essa relevância política nela. Vamos ver; não sei o futuro.
Que nome o senhor pode concorrer? Algum nome forte que o senhor preveja para o governo estadual?
Eu acho que o Eduardo mudou o mapa político do Estado nesse momento.
Se você ver a foto de quem foi vencido, é inacreditável. Você coloca dois mega senadores — na realidade, três, porque o Irajá (PSD) estava do lado do Geo —, sete deputados federais… O único que ficou com o Eduardo e foi proibido de se manifestar foi o Felipe Martins, porque é filiado ao PL.
Sete federais, 23 deputados estaduais, toda a força financeira do entorno da candidata. Ele derrotou tudo isso. Esse povo vai ter que repensar que não é apenas esse poder econômico e político que elege. Eu acho que agora o Eduardo vai ter condição de fazer aquilo que eu não soube fazer em 2013. Eu era muito inexperiente politicamente e não tive a percepção de que, através da capital, dava para criar uma nova força política. O Eduardo tem essa percepção e não vai perder essa oportunidade.
Como ele é prefeito de primeiro mandato, é impossível ele renunciar. Ele vai concluir seu mandato. Mas, obviamente,
ele vai ser muito relevante na eleição de 2026, e tudo vai passar pelo nome dele.
Como é que está o quadro hoje1? Que eu saiba, está tudo indefinido. Wanderlei (Repu) termina o mandato? Renuncia? E, se renunciar, Laurez (PDT) assume ou não? Dorinha (UB) é candidata ou não? Eduardo Gomes (PL) disse que seria candidato, será que vai arriscar? Então, eu acho que hoje, falando em 2026, é melhor chamar um vidente, porque, por causa da eleição na capital, tudo está em aberto.
Com relação à educação, o senhor teve uma gestão com a construção e entrega de diversas escolas, integralização do ensino em várias delas, mas a gente vê que o Sintet (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins) ainda hoje pega no pé do senhor. Isso se deve apenas ao episódio da greve, ou tem mais coisas que afastam o senhor da categoria? Como o senhor vê isso?
Em primeiro lugar, é uma tristeza, porque minha maior marca é a educação, e não foi só pela gestão; sou apaixonado por educação. Sempre trabalhei com a educação e, para meus filhos, fiz exatamente o mesmo que quero para os palmenses: educação de qualidade e oportunidade. Hoje é tão fácil as pessoas falarem que o governo está pagando o salário antecipado. Será que esquecem que foi o Amastha que fez isso?
Que o governo atrasava o salário, o município atrasava, e a gente colocou em dia e em ordem. Depois, começamos a antecipar; depois, a prefeita deu continuidade ao pagamento antecipado e o governo também, mas parece que as pessoas esquecem quem foi. Eu paguei tudo, absolutamente tudo o que era possível para o funcionamento. Trabalhamos no fio da navalha do percentual permitido por lei e não era com “contratinhos” de gente que não trabalhava; era para o funcionalismo público concursado, que teve todos os seus direitos reconhecidos. Valorizamos as carreiras. Agora,
politicamente, o Sintet inventou uma greve absurda e, na minha inexperiência, não soube como lidar.
Porque eu digo: tenho minha parte de culpa, justamente por falta de traquejo político. Vou carregar isso para a vida inteira.
Mas a educação do Brasil me ama e a grande maioria dos educadores de Palmas também. Agora, quem estava à frente desse movimento criou um ranço, um sentimento que não é recíproco. Porque para mim, educação só se faz com educadores. Professores que não são reconhecidos, capacitados e bem pagos nunca vão funcionar para dar educação de excelência. O Sintet pode falar o que quiser; eu sempre vou trabalhar em benefício dos professores, independente dele. Você sabe quantas escolas de tempo integral foram construídas depois que eu saí? Nenhuma! Temos que recuperar o tempo perdido. Nossas crianças todas têm que estar bem nas escolas de tempo integral com a mesma qualidade.
Fizemos parcerias com as forças de segurança: Bombeiros, Guarda Metropolitana, Exército, Polícia Rodoviária Federal, Marinha do Brasil, Embrapa. Isso mudou a história da nossa educação, e já vemos os resultados. Para o nosso prefeito Eduardo, a educação também é de absoluta prioridade.
Vou dar o meu melhor para que a nossa educação seja a melhor do Brasil e para que nossos professores sejam os mais reconhecidos do país.
Agora voltando a falar sobre a governabilidade do prefeito eleito, Eduardo. Como o senhor falou, a partir de primeiro de janeiro vamos ver quem será oposição e a base, mas vários vereadores eleitos estavam na chapa da Janad. Como o senhor acha que vai ser essa governabilidade na Câmara dos Vereadores?
Se para mim foi possível, para ele será fácil. Tivemos pouquíssimas derrotas na Câmara, e isso acontecia quando havia intervenção de algum terceiro, com interesses que não eram os da cidade, como a criação da nossa Agência de Regulação, em que fui derrotado no primeiro mandato. Mas foram pouquíssimas coisas. Eu digo:
se para mim, que não era bom de política, foi possível, para o Eduardo, que é articulador nato, será fácil.
Hoje, os vereadores eleitos com a Janad não vão trabalhar contra o Eduardo ou contra Palmas, pois será o único mandato deles. Se a sociedade perceber que elegeram um vereador para atrapalhar os projetos do prefeito, esses vereadores terão dificuldade em se reeleger. A eleição ficou para trás. Eles têm seus partidos, podem ter sua coerência, podem ter sua articulação. Agora, votar contra Palmas? Você me pergunta:
se tivesse acontecido o improvável e a Janad tivesse ganho a prefeitura, qual seria minha atitude? Acho que Palmas conhece minha postura. Tudo que fosse bom para Palmas, eu aprovaria e votaria junto.
Que tipo de mandato seria o meu se votasse contra projetos bons para a cidade?
Tem gente que pensa em articular uma frente contra o Eduardo. Isso está errado. Entraram 15 vereadores novos, foi a maior renovação da história, e esses 15 entram com um novo espírito, com um sentimento de renovação, de fazer o melhor por Palmas. E fazer o melhor por Palmas só é possível apoiando o prefeito. Não será votando contra a cidade que atingiremos nossos objetivos. Se esquecermos isso, desistiremos de nossos projetos políticos e partidários que são defensáveis e justos. Formar uma maioria e uma governabilidade para Eduardo, garanto, não terá grau de dificuldade.
O senhor falou sobre a candidatura do senhor, que ao apoiar Eduardo, fez um cálculo político e decidiu a partir disso. Mas vimos, em todos os jornais, noticiamos aqui também, aquela operação da Polícia Federal na casa do senhor. Esse fato também influenciou na sua decisão de sair da disputa pela prefeitura?
Com certeza. Isso me enfraqueceu muito. Essa operação2 foi uma agressão dessas, no dia 24 de maio, tão perto das convenções. Para você ter uma ideia, a primeira vitória que conseguimos, como era absolutamente previsível, foi com o ministro Dias Toffoli, que entendeu que foi um absurdo e mandou o caso para a Justiça Eleitoral.
E veja só, a Justiça Eleitoral, estamos em novembro, até agora o juiz eleitoral não teve tempo nem de ler o processo. Ou seja, minha condição hoje é a mesma de 24 de maio, com tudo bloqueado, com as coisas que pegaram na minha casa. Tudo continua do mesmo jeito. Se havia uma maneira de me forçar a sair do jogo, era me bloquear.
Quem seria o maior financiador da minha campanha? Eu mesmo. Com tudo bloqueado, como poderia ser meu próprio financiador?
Parte da estratégia deu errado apenas em uma coisa: não acreditar que eu apoiaria o Eduardo e que juntos conseguiríamos vencer essa eleição. Então, é Deus. Quando o homem tenta mudar o que Deus escreveu, dá errado. E deu errado.
Quando estávamos em Brasília com o ministro Márcio e a Amanda Sobreira, presidente do PSB Palmas, que estava junto, eu falei: Amanda, explica para o ministro quantas vezes veio à tona a história dessa operação durante a campanha. Sabe quantas vezes? Nenhuma.
Porque o povo de Palmas sabe que eu não entrei na política para isso, que encontrar R$ 60 mil na minha casa, seis anos após minha saída da prefeitura, é uma falta de respeito. Por outro lado, essa operação nasceu porque dois delatores do Rio Grande do Sul, que a gente nunca viu, disseram que um diretor do PreviPalmas teria ido a São Paulo numa reunião e afirmado que queria 18% de comissão para minha campanha.
A primeira coisa que vamos fazer quando o processo for aberto na Justiça Eleitoral é pedir que esses dois delatores sejam notificados para dizer a quem entregaram esse dinheiro, ou se ele realmente existiu. Você sabe qual será o resultado disso? Eu posso prever. Nunca na história, com dinheiro público ou com o funcionalismo, passou nada pela minha mão ou de meus familiares. Se alguém cometeu uma falcatrua, que pague por isso; mas esse alguém nunca serei eu, porque esse não é meu objetivo na política. Sem dúvida, essa agressão foi a gota d’água que me levou a abrir mão da candidatura.
Nestes dias, um amigo comentou que queria entrar na política, mas estava com medo do desgaste e dos processos. Eu falei para ele não entrar, porque quem está na chuva, se molha. A política tem isso: cria inimigos que usam todos os instrumentos para te destruir. Eu sofri isso várias vezes, sem contar os processos que vi nascerem e que consegui impedir. Hoje, tenho uma carapaça de tartaruga. Bate, bate, e não atinge, porque tenho duas opções: ou aprendo a lidar com isso ou saio da política.
Eu não vou sair da política. Até o último suspiro, farei o impossível para que esta cidade seja a melhor do mundo para se viver.
Agora fazendo uma regressão, lá atrás, quando o senhor deixou a prefeitura. Se pudesse voltar no tempo, teria feito diferente?
Olha, muita gente me falou isso: “Poxa, Amastha, você não devia ter saído.” Mas vou falar uma coisa: quem me diz isso é o mesmo que queria que eu tivesse saído para disputar o governo.
Só que aí veio o imponderável. Quando saí da prefeitura, tiraram o Marcelo naquele impeachment, e eu iria enfrentar Marcelo Miranda, que estava tremendamente desgastado, enquanto nossa gestão era muito bem avaliada, um modelo para o Tocantins. Essa eleição contra Marcelo Miranda seria uma eleição “pra lá” de possível.
Quando tiraram Marcelo, faltando poucos meses para o final do mandato, aconteceu aquela eleição suplementar. Então, digamos assim, Deus não quis. Se eu soubesse que Marcelo seria tirado, não teria renunciado; teria terminado o mandato. Mas se isso, se aquilo… Se meu avô fosse minha avó, o mundo seria outro. Esse é o imponderável. Acho que fiz o certo no momento. Te garanto que, se tivesse vencido, este estado seria maravilhoso, porque as potencialidades que o estado tem, meu Deus!
Tenho certeza de que, explorando as potencialidades do Tocantins, hoje seríamos o estado mais desenvolvido do Brasil. Mas continuamos patinando, cada vez pior, cada vez pior. Um estado rico e um povo pobre. É uma tristeza o que vemos no interior deste estado. Tem tanta gente dependendo de carguinho público, contratinho, assistencialismo. Com a população que tem e as potencialidades que tem, o Tocantins não deveria depender de esmolas.
Enquanto isso, emendas para shows crescem 300%, milhões de reais indo pelo ralo da corrupção, quando deveriam ser usados para gerar emprego e renda e oferecer serviços obrigatórios.
Como é que não temos uma saúde de excelência? Como não temos uma educação de excelência? Para mim é claro: nossa velha política faz questão de manter uma educação de quinta categoria, porque um povo educado, com oportunidades, não vota porque é obrigado nem vende seu voto.
Pegando essa frase do senhor, “apesar do governo”, fora os últimos acontecimentos, como o governador sendo investigado por causa das cestas básicas, que ainda precisa ser melhor esclarecido pela Justiça, como o senhor avalia a administração Wanderlei Barbosa?
O pessoal não lembra, mas o Wanderlei foi o único deputado, fora o Aragão (PSC), que era meu vice, que me apoiou em 2012. Já levantamos a reeleição dele em 2014, então tenho respeito e apreço pela pessoa. Agora, quanto à gestão, é mais uma dessas. Faço uma pergunta ao contrário: me diga quais projetos o Estado do Tocantins tem para Palmas. Absolutamente nada! Não posso avaliar como positiva uma gestão que não tem projeto para desenvolver nossa capital, mas também não posso dizer que seja pior que as anteriores.
Será que ele consegue terminar o mandato?
Não sei. Acho que não merecemos essa instabilidade novamente. Mas, por outro lado, se insistimos no mesmo acerto, queremos estabilidade? Olhe para os princípios de moralidade e legalidade. O escândalo das cestas básicas, ainda em investigação, é uma aberração.
Enquanto as pessoas estavam literalmente morrendo de fome, havia uma quadrilha montando um esquema para roubar dinheiro.
Isso não tem perdão. Quem fez parte desse crime abominável deve pagar.
Com relação à gestão atual da prefeitura de Palmas, um dos principais pontos negativos foi o transporte público. Além disso, quais outros pontos o senhor acredita que não foram bem administrados?
Assim como falei sobre a gestão do Wanderlei, vou falar sobre a prefeita. Ela fez a infraestrutura da cidade avançar, com parte dos recursos que deixamos. Já vi gestores que receberam pacotes de recursos e não executaram; ela executou. A NS-10, o Taquari, várias coisas que deixamos organizadas foram realizadas. Então, a cidade não deixou de avançar na infraestrutura.
Mas pecou horrivelmente na saúde. Não tínhamos a melhor saúde de todas as capitais brasileiras? Eu tinha orgulho de ouvir as pessoas dizerem que preferiam ir para a UPA Norte do que para o setor privado. Tudo estava funcionando bem. Agora, é esse joguinho entre governo e município. Na minha época, a gestão estadual da saúde era muito pior, na época do Marcelo Miranda era um pavor, e mesmo assim dávamos conta muito bem da nossa parte. Acho criminoso a prefeita e o governador ficarem discutindo de quem é a responsabilidade. O povo não quer saber; o povo quer ser atendido.
Ela destruiu a saúde do município, que foi avaliada como a melhor do Brasil, e hoje está longe dos primeiros lugares.
Nossa educação retrocedeu. A cidade cresceu muito nesses últimos seis anos, e não houve mais ofertas de escolas de tempo integral e CMEIs. Um atraso total nas creches. Inauguramos seis, deixamos oito em construção, e hoje precisaríamos de no mínimo mais oito. A solução da prefeitura foi ofertar meio período. Ah, que grande solução! Vai dizer a uma mãe que meio período resolve o problema da creche. A creche tem que ser integral. É como uma mãe de família pode estudar ou trabalhar.
A gestão da prefeitura no transporte público foi a maior barbaridade que ela cometeu.
Eu estava tentando um pouco entender os números e sei que nossa entrevista não será suficiente para que todos os palmenses possam compreender. Essa foi a maior barbaridade que ela cometeu. Uma barbaridade! Vou te explicar, não sei se você conseguirá traduzir, é tão difícil que eu queria um microfone para que toda Palmas ouvisse o que aconteceu. Número um: desde Fenelon Barbosa, passando por Toninho da Miracema, depois o Eduardo colocou outra empresa, e as pessoas, inclusive na minha gestão, diziam que eu não me importava com transporte público e tal. Quando cheguei à prefeitura, eu disse: deixa eu entender, é monopólio? Não, é concessão. Essa história é um sofisma de distração. Porque, realmente, o problema não era o domínio; o problema era a gestão.
O problema foi o meu antecessor, que não assumiu a responsabilidade do município pelo transporte público. Criamos nosso Conselho de Transporte, sentamos com a empresa e trabalhamos juntos. Peguei a frota mais velha do Brasil e entreguei a mais nova de todas as capitais. Entreguei 100% dos ônibus com acessibilidade e 80% com ar-condicionado. Estávamos começando novas licitações com energia fotovoltaica e pontos com internet, além do projeto do BRT para fazer estações climatizadas e corredores de transporte.
Então, vou te dizer: se alguém fala do Toninho, qual a diferença entre o Toninho do Raul, do Amastha ou da Cinthia? A diferença está na Cinthia e no Raul. O Toninho era o mesmo. Como é possível que no nosso mandato criamos o Eixão, sem problemas de ônibus parados, que não batiam ou quebravam? O que mudou foi o gestor. A empresa é a mesma. Na gestão do Amastha, era 100% supervisionada pela prefeitura. Tarifa a R$3,85. Em 2015, a tarifa técnica passou para R$3,65 e a passagem foi para R$3,50. Tomamos a decisão de subsidiar 15 centavos para não impactar, pois era um momento econômico difícil no Brasil. Isso custou, para o período subsidiado, menos de R$2 milhões por ano. Você sabe quanto a prefeitura gasta hoje com transporte público, após a gestão “agora o transporte é nosso”? Cerca de R$15 milhões por mês, arrecadando no máximo R$4 milhões para um serviço ruim. Ou seja, sem gastar, o transporte público funcionava. Agora, gastando mais de R$150 milhões por ano, o serviço é péssimo. Precisaremos registrar isso para posteridade.
O que essa prefeita fez com o transporte público não se faz. Agora, o desafio é o que o prefeito fará em janeiro para dar uma resposta à sociedade. Vou te falar: não é um desafio fácil. Ele está preocupadíssimo, tentando encontrar soluções, mas não é mágica. Construir é difícil; destruir, rápido. Ela destruiu em minutos. Agora o ônibus é “nosso”, mas queremos um serviço público que funcione.
Essa história do transporte público, meu Deus, que coisa horrorosa. Estamos gastando isso todo santo mês.
Outra crítica recente foi sobre a viagem que ela fez para a Espanha 3em comitiva, com diversos secretários, faltando pouco mais de um mês para acabar o mandato. Como o senhor vê isso?
Eu li que ela ia lá apresentar um projeto do Palmas Solar, essa usina que está sendo construída no Centro de Convenções. Eu deixei R$50 milhões em caixa, em 2017, destinados para isso. Ficaram anos tentando mexer nesse dinheiro e agora vão levar para a Espanha, para a Smart City. O que um prefeito, com 30 dias para terminar o mandato, vai aprender ainda? É falta de respeito, um final triste.
Amastha, agradecemos pela sua participação nesta entrevista. Mais alguma coisa que o senhor queira acrescentar?
Apenas agradecer pelo convite. Estou sempre à disposição. Quando é para falar de Palmas, minha paixão. Quero deixar claro que falo sem tabu, não combinamos perguntas, nem colocamos temas proibidos. Quem entra na vida pública deve entender que o princípio primordial é a transparência
- Laurez Moreira, Cinthia Ribeiro e Irajá Abreu podem ser candidatos de oposição à base governista em 2026 ↩︎
- Ex-prefeito Carlos Amastha é apontado pela PF como suspeito de coordenar fraudes no PreviPalmas ↩︎
- Prefeita de Palmas lidera delegação em congresso internacional com despesas de mais de R$ 200 mil em diárias ↩︎