Notícias

Encontramos 5418 resultados
Consumidor
ANEEL propõe revisão tarifária da Energisa Tocantins com alta de até 8,97% para residências

Revisão tarifária periódica foi discutida em audiência pública realizada em Palmas; consulta segue aberta até 16 de maio e decisão final será tomada em reunião da Diretoria da Agência em junho

Sentença
Justiça determina que BRK Ambiental pare de cobrar por ligação de água e devolva valores aos consumidores

Decisão judicial atende pedido do Ministério Público do Tocantins; empresa deverá restituir quantias pagas com correção monetária e juros

Político
Eduardo Siqueira: as lições de um pedagogo sobre política e reconciliação

Em vez de revanche, ele oferece conversa. Em vez de ataque, escuta. Uma pedagogia silenciosa na gestão de Palmas

Faltou dizer
Rombo bilionário no INSS: Onde está o dinheiro dos aposentados?

Rombo de R$ 6,3 bilhões no INSS revela falência ética e estrutural do sistema de proteção social

Pendências
Eleitores do Tocantins têm até 19 de maio para regularizar situação eleitoral

A falta de regularização eleitoral impede o voto, concursos, posse em cargos públicos e obtenção de documentos

Fraude
Cresce número de denúncias no Tocantins sobre descontos indevidos em pensões e aposentadorias do INSS 

A Polícia Civil orienta que aposentados e pensionistas que encontrarem descontos não reconhecidos procurem a delegacia mais próxima

Repercussão
TCE/TO cancela contrato polêmico para criaçāo de cheiro exclusivo nas suas dependências

Decisão foi publicada após o Jornal Opção divulgar contrato de R$ 11 mil para fragrâncias da Corte

Saúde
Eduardo Siqueira e Irajá anunciam pronto-socorro materno-infantil para região sul de Palmas

Anúncio foi feito em um vídeo publicado nas redes sociais pelos dois políticos

Transporte
Estudantes de Palmas solicitam passe livre no transporte público municipal

Reunião entre representantes do movimento estudantil e o secretário de governo , Sérgio Soró, abordou propostas para garantir a gratuidade no transporte público; prefeitura reconheceu falhas no sistema e enfrenta crise na operação de ônibus

Artigo de Opinião
Entre a receita e o poder: a disputa pelo saber na saúde

Por Thiago Barbosa Soares

Um dos saberes mais valorizados nas sociedades ocidentais é o saber médico. Não apenas por curar males do corpo e até da mente, também, em inúmeros casos, por fazer da vida mais suportável, quando não, por trazer maior simetria estética à compleição física de quem a deseja. Uma das profissões mais valorizadas que, mediante remuneração relativa à carga horária trabalhada e esforço despendido, concorre, no imaginário coletivo, para determinar como se pode estar mais saudável, viver mais e melhor por meio de medicamentos, procedimentos cirúrgicos e aconselhamentos especializados. Segundo essa perspectiva, o saber médico confere a quem o detém poderes quase divinos somente comparados, do ponto de vista do funcionamento do circuito coletivo, aos de um juiz, uma vez que versa sobre a vida e como essa pode operar. Todo questionamento acerca dos dizeres médicos, conforme o próprio saber médico, é um tipo de “afronta” a quem realmente possui o saber científico.

Diante desse cenário segundo o qual o discurso médico enquadra-se como um reflexo das desigualdades de saber-poder, este artigo discute a notícia “Nova norma permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos, incluindo os controlados; entenda” (Carvalho, 2025), publicada em 20 de março de 2025, pelo portal virtual Jornal Opção Tocantins, procurando revelar como conflitos de interesses profissionais são mediados por estruturas de saber-poder e estratégias de legitimação, uma vez que, como destacam Foucault (2004) e Bourdieu (2007), o discurso médico-farmacêutico não é neutro: é um campo de batalha onde se disputa quem tem o direito de dizer sobre o corpo, a doença e a cura.

Uma breve discussão

Sob a ótica da governamentalidade (Foucault, 2008), a resolução articula uma estratégia de descentralização sanitária típica das racionalidades neoliberais (Rose, 1999), nas quais o Estado transfere responsabilidades para atores não médicos, visando otimizar recursos e ampliar o acesso a medicamentos. No entanto, essa aparente democratização esbarra em mecanismos de controle sutis: o RQE, embora habilite farmacêuticos, mantém a regulação estatal sobre quem pode prescrever, reinscrevendo a lógica disciplinar sob novas roupagens. A norma não rompe com a governamentalidade, mas a reconfigura, expandindo o campo de atuação farmacêutica sob vigilância institucional. Aqui, a biopolítica opera em duplo movimento: ao mesmo tempo que fragmenta o monopólio médico, produz novos corpos dóceis, farmacêuticos especializados, cuja autoridade depende de certificações técnicas. Essa ambiguidade expõe o paradoxo do neoliberalismo: a descentralização é sempre acompanhada de recentralização via regulação.

Ao ampliar as atribuições farmacêuticas por meio de mecanismos como o Registro de Qualificação de Especialista (RQE), a resolução desestabiliza a formação discursiva biomédica hegemônica, historicamente centrada no monopólio médico sobre o diagnóstico e a prescrição. Essa contranarrativa, ancorada em termos como “Farmácia Clínica” e “especialização", opera como um ritual de veridicção (Foucault, 2010), isto é, do dizer realmente verdadeiro, redefinindo quem detém autoridade para intervir no corpo biológico. Contudo, a resistência das entidades médicas, que mobilizam enunciados como incapacidade de diagnóstico, evidencia a violência epistêmica inerente a disputas por jurisdição profissional, nas quais a manutenção de regimes de verdade (Foucault, 2012) depende da exclusão de saberes e poderes concorrentes. A norma, desse modo, transcende a esfera técnica, tornando-se um artefato político que reescreve as regras do jogo discursivo, questionando quem pode enunciar verdades sobre a vida e sob quais critérios.

Considerações finais

A judicialização da norma, exemplificada pela invalidação da resolução de 2013, ilustra a contingência histórica da formação discursiva biomédica e a centralidade do judiciário como instância arbitral do verdadeiro. Ao decidir sobre a legitimidade de enunciados concorrentes (autorização vs. incapacidade), o sistema jurídico materializa a governamentalidade em ação, reforçando alianças entre saber médico e poder estatal.

Essa dinâmica expõe como o direito performatiza hierarquias disciplinares, reafirmando a medicina como ciência soberana da vida (Foucault, 2004), ao mesmo tempo que revela a fragilidade de fronteiras profissionais outrora tidas como imutáveis. Nesse horizonte, a resolução do CFF, ao tensionar essas estruturas, demonstra que as formações discursivas não são estáticas, mas produtos de lutas materiais e simbólicas, nas quais a biopolítica (Foucault, 2008b) atua como tecnologia de regulação da governamentalidade, incluindo e excluindo agentes conforme estratégias de controle.

Portanto, como foi visto, a norma insere-se em uma racionalidade neoliberal (Rose, 1999), que descentraliza responsabilidades sanitárias sob o discurso da eficiência, mas mantém mecanismos de vigilância, como o RQE, reinscrevendo a lógica disciplinar em novas roupagens. Essa aparente democratização do acesso a medicamentos esbarra no paradoxo neoliberal: a descentralização é acompanhada de recentralização regulatória, produzindo corpos dóceis (Foucault, 2014) cuja autoridade depende de certificações técnicas. Assim, a resolução não rompe com a governamentalidade, mas a reconfigura, expandindo o campo farmacêutico sob tutela institucional. Sob a ótica discutida aqui, o caso evidencia que disputas por saber-poder não se limitam a conflitos profissionais, mas redefinem os próprios critérios de legitimidade que organizam a vida coletiva, reafirmando que, na economia do poder, até mesmo uma vírgula pode ser um campo no qual se decide o destino de vidas.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.

CARVALHO. Júlia. Nova norma permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos,

incluindo os controlados; entenda. Jornal Opção, Tocantins, 2025. Disponível em:

prescrevam-medicamentos-incluindo-os-controlados-entenda-555271/. Acesso em: 17

abr. 2025.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Tradução de Roberto Machado. 6. ed.

Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica - Curso dado no College de France

(1978-1979). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros - Curso no Collège de France (1982-

1983). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 8.

ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel

Ramalhete. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

ROSE, Nikolas. Powers of Freedom: Reframing Political Thought. Cambridge:

Cambridge University Press, 1999.