Nesta quarta-feira, 22 de janeiro de 2025, completa um mês desde o trágico colapso da ponte Juscelino Kubitschek, que ligava Aguiarnópolis (TO) a Estreito (MA), quando 17 pessoas perderam a vida e um homem sobreviveu. Até o momento, três pessoas permanecem desaparecidas. O incidente, ocorrido no dia 22 de dezembro, envolveu diversos veículos, incluindo caminhões-tanque carregados com ácido sulfúrico e agrotóxicos, que caíram no rio Tocantins. As buscas por vítimas continuam. 

A ponte, construída na década de 1960, atravessava o rio Tocantins e fazia parte da rodovia BR-226. Inaugurada ainda pelo presidente Juscelino Kubitschek, a travessia apresentava problemas estruturais há décadas. A própria população denunciava, por meio de vídeos, as péssimas condições da ponte, com relatos de que ela “tremia” e estava cheia de fissuras e buracos.

Em 2020, um relatório técnico de 183 páginas do DNIT apontou 19 tipos de danos estruturais na ponte que desabou. O documento, que foi acessado pelo Jornal Opção Tocantins, destacou fissuras em 14 dos 16 pilares da ponte, além de falhas nas paredes de travamento, nos blocos de fundação e em reforços dos pilares, que estavam visivelmente inclinados. Embora o relatório indicasse “danificação elevada”, não houve alerta para risco imediato de colapso. O DNIT também classificou a ponte como “ruim” em seu portal, com nota 2 em uma escala de 1 a 5, sendo 5 a melhor condição.

Para atender a demanda e liberar o fluxo de transportes, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar (PMTO) recomendaram rotas alternativas para motoristas que precisam atravessar a região:

  • Sentido Belém/Brasília via Imperatriz/MA: Pela BR-010, em Imperatriz/MA, entrar à direita no km 249,6, atravessar a Ponte Dom Affonso Felippe Gregory, seguir pela TO-126 até Sítio Novo/TO, continuar pela TO-201 até Axixá do Tocantins/TO, pela TO-134 até Luzinópolis/TO e acessar a BR-226 em Darcinópolis/TO.
  • Sentido Brasília/Belém via Darcinópolis/TO: De Darcinópolis, seguir pela TO-134 até Luzinópolis e São Bento/TO, depois para Axixá do Tocantins/TO, seguindo pela TO-201 até Sítio Novo/TO e para Imperatriz/MA pela TO-126.
  • De Balsas/MA a Brasília/DF: Seguir para Carolina/MA, atravessar o Rio Tocantins de balsa para Filadélfia/TO e continuar pela TO-222 até Araguaína/TO, acessando a BR-153.
  • De Brasília/DF a Balsas/MA: Partir de Araguaína/TO pela TO-222, atravessar o rio para Carolina/MA e seguir pela BR-230 até Balsas/MA. Motoristas que trafegam pela região devem redobrar a atenção e seguir as sinalizações e desvios indicados pelas autoridades para evitar maiores transtornos.

No entanto, alguns desses trechos, não preparados para o alto fluxo de transportes e cargas pesadas, necessitam de repaginação. Então no dia 14 de janeiro, a 1ª Promotoria de Justiça de Tocantinópolis, por meio do Ministério Público do Tocantins (MPTO), emitiu uma recomendação ao governador do Estado do Tocantins, Wanderley Barbosa (Republicanos), ao presidente da Agência de Transportes, Obras e Infraestrutura do Tocantins (Ageto), Márcio Pinheiro Rodrigues, e a procurador-geral do Estado, Irana de Sousa Coelho Aguiar para a pavimentação asfáltica de um trecho de 36 quilômetros da rodovia TO-126, entre o povoado de Ribeirão Grande e o município de Maurilândia do Tocantins.

Nesta terça-feira, 21, em nota enviada ao Jornal Opção Tocantins, o DNIT informou que os veículos que estão em cima da estrutura remanescente da ponte JK, devem ser removidos até o final desta semana. A medida segue uma decisão da Justiça Federal, que determinou a retirada de um carro de passeio preso em uma fenda da ponte. 

Recursos para nova ponte

No dia 23 de dezembro de 2024, o ministro dos Transportes, Renan Filho, durante visita a Estreito, no Maranhão, se pronunciou sobre o desabamento da ponte. Acompanhado dos governadores Wanderlei Barbosa (Tocantins) e Carlos Brandão (Maranhão), além de prefeitos, ele destacou a gravidade da situação e os planos para a reestruturação da ponte. 

Renan Filho anunciou a decretação de emergência para acelerar os processos administrativos e garantir que a reconstrução ocorra ainda em 2025, dentro do exercício fiscal. Ele explicou que a obra incluirá a remoção dos escombros e a avaliação dos danos, e afirmou que o DNIT possui capacidade técnica e financeira para executar a obra, com altos padrões de segurança. O investimento estimado é entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões, com conclusão prevista para 2025.

As buscas continuam

Após o desabamento, no dia 25 de dezembro de 2024, a Marinha do Brasil assumiu o comando das operações relacionadas à queda da ponte. Sob a liderança do Capitão de Mar e Guerra Gurski, atual Capitão dos Portos do Maranhão, a central de operações monitora os trabalhos de resgate. 

Para apoio às buscas, um helicóptero UH-15 transportou um sonar “sidescan” para busca no leito do rio. Mergulhadores e militares especializados em Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (NBQR) foram deslocados do Rio de Janeiro para monitorar vapores tóxicos e realizar possíveis descontaminações. 

As profundidades no local do desabamento chegam a mais de 40 metros, o que aumenta os riscos e exige alta qualificação dos mergulhadores. Durante as buscas, obstáculos como cabos de aço, concreto, material de alvenaria e veículos tornam o trabalho ainda mais complexo. Todos os mergulhadores envolvidos passaram por treinamento rigoroso no Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átilla Monteiro Aché (CIAMA), no Rio de Janeiro.

No dia seguinte, 26 de dezembro, a Petrobras disponibilizou quatro veículos remotamente operados (ROV) com câmeras de alta resolução para auxiliar nas inspeções subaquáticas durante as operações de resgate, realizadas por mergulhadores em profundidades de 20 a 60 metros. Paralelamente, a Transpetro forneceu um sonar, que gera imagens detalhadas do fundo do rio, ajudando os mergulhadores a realizarem as buscas de forma mais precisa. Atualmente, devido às condições meteorológicas, as buscas seguem por cima do rio, com drones e embarcações.

Investigações sobre as causas da tragédia

A Polícia Federal (PF) instaurou uma investigação para determinar as responsabilidades pela queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira. O DNIT esclareceu que entre 2021 e 2023 foi mantido um contrato de R$ 3,5 milhões para manutenção da ponte e outras obras no Tocantins, realizando reparos estruturais. Um novo contrato até 2026 busca melhorar a trafegabilidade e segurança na BR-226/TO.

Em 2024, foi lançado um edital de R$ 13 milhões para reabilitar a ponte, mas a licitação fracassou. Após o colapso, uma sindicância foi instaurada, e a situação foi declarada de emergência, permitindo ações rápidas, como demolição da estrutura danificada. 

O Tribunal de Contas da União (TCU) também está conduzindo uma investigação sobre os recursos destinados aos municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO). A investigação tem o objetivo de apurar e verificar quanto dinheiro foi enviado para a região nos últimos anos, identificar os parlamentares responsáveis pelas emendas e entender as finalidades dos recursos. 

Desde 2022 o Congresso direcionou R$ 35,6 milhões em emendas para os dois municípios. Os valores foram usados para diversas finalidades, incluindo a construção de um abatedouro e a realização de shows com artistas sertanejos. No entanto, nenhum recurso foi destinado para a manutenção da ponte.

Medidas emergenciais e poluição ambiental

O DNIT contratou a empresa PIPES Empreendimentos LTDA por R$ 6,4 milhões para operar balsas entre os municípios. O serviço emergencial está em fase de mobilização, com adequações nos acessos às balsas em conformidade com as exigências da Marinha. O contrato tem validade de um ano, a partir do acidente ocorrido em 22 de dezembro de 2024.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema/MA), em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), realiza análises da qualidade da água do rio Tocantins após o colapso, que despejou caminhões carregados com ácido sulfúrico e agrotóxicos no rio. Foram identificadas fissuras em um tanque contendo 23 mil litros de agrotóxicos, e a empresa Pira-Química foi solicitada a apresentar um relatório detalhado. Enquanto isso, a empresa Sumitomo está conduzindo a remoção de bombonas com produtos químicos submersos.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em colaboração com a Marinha do Brasil, a ANA e as empresas transportadoras, monitora e remove os produtos perigosos. O DNIT também foi notificado a apresentar Planos de Atendimento à Emergência (PAEs). As análises preliminares da água indicam que os parâmetros estão dentro dos limites normais e não foram observados impactos significativos na fauna local.

Economia

Além dos impactos ambientais causados com o desabamento, o acidente causou prejuízos também para a comunidade que dependiam da ponte para acessar Aguiarnópolis, e com a interrupção da via, impactou a clientela causando redução no volume de vendas e serviços prestados, desestruturando a economia local.

De acordo com um relatório técnico, realizado com 28 empresas de diversos setores de Aguiarnópolis, revelou que, após o colapso da ponte, 51,85% das empresas precisaram demitir funcionários. Entre as que ainda não reduziram o quadro, 88,46% afirmaram que poderão demitir caso a crise econômica causada pela interrupção da ponte continue. As entrevistas foram realizadas pela Comissão Pró-ACISPERAR-TO – Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócio de Aguiarnópolis, coordenada por Márlon Reis, ex-juiz e doutor em Sociologia Jurídica pela Universidad de Zaragoza, na Espanha, nos dias 6 e 7 de janeiro de 2025.

Afastamento do superintendente do DNIT

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afastou o superintendente do DNIT no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, preventivamente. A decisão está publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 17 de janeiro de 2025, e considera um processo administrativo disciplinar que apura possíveis omissões do órgão em relação à ponte que fica na BR-226, trecho federal.

Renan Bezerra foi preso no Tocantins em 2017 pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Ápia, que investigava fraudes em licitações e contratos de obras, com suspeita de desvios superiores a R$ 200 milhões do BNDES. Ele é um dos filhos do ex-procurador geral de Justiça do Tocantins, Clenan Renault.

Atualmente, Renan Bezerra é réu no Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins, após o caso ter sido transferido para essa jurisdição em 2020, sob a alegação de que os recursos desviados teriam financiado ilegalmente campanhas eleitorais. Em 2023, ele foi nomeado para o cargo atual pelo governo federal.

Conforme a portaria, Renan Bezerra poderá ficar afastado por 60 dias, prazo que poderá ser prorrogado por igual período. O afastamento preventivo será realizado sem prejuízo da remuneração de Renan, que terá direito ao contraditório. Ele terá que permanecer à disposição do DNIT durante o período mencionado, informando endereço, telefone e outros meios de contato para eventual convocação. Outros três servidores do órgão também foram afastados. 

No mesmo DOU, O diretor-geral do DNIT, Fabricio de Oliveira Galvão, designou o servidor Flávio Ferreira Assis, analista em Infraestrutura de Transportes, para substituir o superintendente regional do DNIT no Tocantins nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância da função.

Um mês após o acidente, veja os óbitos confirmados:

  • Lorena Rodrigues Ribeiro, 25 anos – corpo resgatado no domingo, 22 de dezembro, encaminhado para o Núcleo de Medicina Legal de Araguatins e liberado no mesmo dia
  • Lohanny Cidronio de Jesus, 11 anos – corpo resgatado na terça-feira, 24, e encaminhado para o IML do Maranhão
  • Kecio Francisco Santos Lopes, 42 anos – resgatado na terça-feira, 24, encaminhado para o Núcleo de Medicina Legal de Tocantinópolis e já liberado aos familiares
  • Andreia Maria de Sousa, 45 anos – corpo resgatado na terça-feira, 24, encaminhado para o Núcleo de Medicina Legal de Tocantinópolis e já liberado aos familiares
  • Anísio Padilha Soares, 43 anos – corpo resgatado na quarta-feira, 25, encaminhado para a estrutura do Núcleo de Medicina Legal de Tocantinópolis, montada em Aguiarnópolis e já liberado aos familiares
  • Silvana dos Santos Rocha Soares, 53 anos – corpo resgatado na quarta-feira, 25, encaminhado para a estrutura do Núcleo de Medicina Legal de Tocantinópolis, montada em Aguiarnópolis e já liberado aos familiares
  • Rosimarina da Silva Carvalho, 48 anos – corpo localizado na noite de quinta-feira, 26, encaminhado para a estrutura do Núcleo de Medicina Legal de Tocantinópolis e já liberado aos familiares
  • Elizângela Santos das Chagas, 50 anos – corpo localizado na noite de sexta-feira, 27, encaminhado para IML do Maranhão
  • Ailson Gomes Carneiro, 57 anos – corpo resgatado neste domingo, 29, encaminhado para o Núcleo de Medicina Legal de Araguaína
  • Cássia de Sousa Tavares, 34 anos – corpo resgatado nesta terça-feira, 31, encaminhado para o Instituto Médico Legal de Imperatriz (MA)
  • Cecília Tavares Rodrigues, 3 anos – corpo resgatado nesta terça-feira, 31, encaminhado para o Instituto Médico Legal de Imperatriz (MA) – aguardando resultados de DNA
  • Beroaldo dos Santos, 51 anos – corpo resgatado nesta quarta-feira, 1º de janeiro, encaminhado para o Núcleo de Medicina Legal de Araguaína
  • Alessandra do Socorro Ribeiro, 50 anos
  • Marçon Gley Ferreira

Continuam desaparecidos:

Felipe Giuvannucci Ribeiro, 10 anos

Gessimar Ferreira, 38 anos

Salmon Alves Santos, 65 anos