(com colaboração de Letícia Lucena)

Nesta quarta-feira, 23, completam-se dois meses desde o início da Operação Máximus, deflagrada pela Polícia Federal (PF), que investiga um esquema de venda de sentenças no Tocantins. A operação revelou uma rede de corrupção envolvendo magistrados, advogados, empresários e servidores públicos. São apurados possíveis crimes de corrupção ativa, exploração de prestígio, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa no Judiciário do Tocantins. Confira, ao final, a lista de todos os investigados. 

Na ocasião, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 60 mandados de busca e apreensão em Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e no Distrito Federal, incluindo o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO).

A operação envolveu sequestro de bens, apreensão de um grande volume de mídias eletrônicas e documentos, que foram analisados por uma força-tarefa montada na Superintendência Regional da Polícia Federal no Tocantins, com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segue a cronologia dos principais acontecimentos e todos os envolvidos no esquema.

23 de agosto – prisões e afastamentos

Desembargador Helvécio de Brito Maia Neto | Foto: Rondinelli Ribeiro- TJTO
Juiz José Maria de Lima | Foto: TJ

27 de agosto – exonerações e nomeações

  • Após as revelações da Máximus, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, também investigado no âmbito da operação, exonerou o então presidente do Naturatins, Renato Jayme, o procurador-geral do Estado, Kledson Moura, e o presidente do Instituto de Terras do Estado do Tocantins (Itertins), Robson Moura Figueiredo, que também foram citados nas investigações.  A operação revelou que os servidores estariam envolvidos em decisões judiciais irregulares e concessões de terras que beneficiavam empresários. 
  • Na mesma data, Irana de Sousa, que atuava como subprocuradora-geral do Tocantins, passou a assumir a gestão da Procuradoria Geral do Estado (PGE), no lugar de Kledson. Edvan de Jesus Silva, diretor de proteção e qualidade ambiental, ficou à frente do Naturatins.
  • Além disso, Rafael Pereira Parente, superintendente do Procon Tocantins foi exonerado sob investigação. Ficou em seu lugar o diretor de Fiscalização do Procon, Magno da Silva Pinto, que foi designado a responder interinamente pela Superintendência.

29 de agosto – 14 situações diferentes

  • O Jornal Opção Tocantins publicou uma reportagem que revelou que desembargadores e juízes do Tocantins estariam envolvidos em uma organização criminosa que supostamente vendeu decisões judiciais em 14 casos diferentes.  As investigações identificaram práticas como o recebimento de propinas para decisões favoráveis, revogação de prisões em troca de pagamentos, e manipulação de processos judiciais relacionados a hospitais, precatórios, questões fundiárias e até a assassinato. 
  • No mesmo dia, o desembargador Adolfo Amaro Mendes foi nomeado vice-presidente do TRE-TO após o afastamento do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto. A juíza Edssandra Barbosa da Silva Lourenço também assumiu o cargo do juiz José Maria Lima.
  • O juiz Océlio Nobre foi removido da 1ª Vara de Palmas após ser mencionado em uma decisão do STJ relacionada a um suposto esquema para facilitar nomeações de cargos públicos. Além disso, o assessor jurídico Éder Ferreira da Silva foi exonerado de seu cargo na 2ª Vara Cível da Comarca de Palmas, onde atuava no gabinete do juiz José Maria Lima, também afastado.
  • O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou um pedido liminar do advogado Adwardys de Barros Vinhal, que buscava acesso a documentos da Operação Máximus, investigada pelo STJ. Vinhal é um dos mais de 50 investigados no caso que apura a venda de sentenças no Tocantins e é genro da desembargadora Etelvina Maria Sampaio Felipe, também sob investigação. Toffoli afirmou que não poderia conceder a liminar sem antes ouvir o relator da medida no STJ, ressaltando que a plausibilidade do direito alegado não poderia ser aferida sem esses esclarecimentos. Vinhal alega que enfrenta restrições a seus direitos, como bloqueio de contas e apreensão de veículos, incluindo um Cadillac Escalade V avaliado em mais de R$ 1 milhão, sem ter sido informado das razões. Ele argumentou que não ocupava cargo com foro privilegiado e pediu acesso imediato aos autos da investigação, com o prazo para recorrer das decisões cautelares a começar após o acesso às informações.

30 de agosto – caso Ore MN

Maganês é explorado na mineradora em Goianorte – Foto: Divulgação
  • O Jornal Opção Tocantins revelou que Continental Logística Ltda, conhecida como Ore MN Mineração, pode ter faturado até R$ 6,6 milhões por ano ao supostamente pagar propina ao Judiciário do Tocantins. Conforme a investigação, o desembargador Helvécio de Brito Maia Neto, teria favorecido a mineradora em decisões judiciais. Thales Maia, filho do desembargador, é suspeito de atuar como intermediário para garantir decisões favoráveis em troca de pagamentos. Interceptações telefônicas revelaram negociações de pagamentos ilegais, com transferências financeiras de R$ 75.000,00 identificadas após decisões que beneficiaram a mineradora. Outras desembargadoras também estão sob investigação por supostas ligações com o esquema.
  • Na ocasião, em resposta ao andamento da operação, o Poder Judiciário do Tocantins afirmou ter adotado uma série de medidas administrativas para garantir a transparência e a integridade do processo investigativo. O TJTO solicitou à Corregedoria Nacional de Justiça para que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realize uma inspeção extraordinária no Judiciário tocantinense.

02 de setembro – advogada do agro

Advogada Eleusa Gutemberg | Foto: Arquivo Pessoal
  • O Jornal Opção Tocantins revelou que a advogada Eleusa Maria Gutemberg, investigada na operação, seria palestrante no II Congresso Nacional de Direito do Agronegócio em Brasília, nos dias 5 e 6 de setembro. Ela apresentaria a palestra “Como a participação feminina enriquece o agronegócio”. A investigação indica que Eleusa, ex-superintendente do Incra no Tocantins, teria atuado para facilitar processos e beneficiar pessoas influenciadas por membros de uma organização criminosa. Gravações sugerem que Thales Maia, filho do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto, teria prometido interferir em processos do Incra. Eleusa tem uma longa trajetória no Incra, onde ocupou cargos importantes de 2006 a 2024 e é reconhecida internacionalmente por suas palestras sobre governança fundiária. Sua indicação foi apoiada por parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária.

04 de setembro – sem habeas corpus

Desembargadora Etelvina Sampaio Felipe | Foto: TJTO
  • A desembargadora e presidente do TJTO, Etelvina Maria Sampaio Felipe, se manifestou sobre a Operação Máximus. Em nota, ela defendeu sua integridade ao longo de quase 35 anos de magistratura, afirmando nunca ter recebido vantagens indevidas e que sempre aplicou princípios de honestidade em seus julgamentos. Etelvina destacou que as acusações ainda carecem de clareza e definição, sendo apresentadas de maneira genérica. Ela também se disse disposta a colaborar com o STJ para esclarecer sua atuação. 

05 de setembro – prorrogação

  • A PF solicitou ao STJ a prorrogação do inquérito da Operação Máximus. O pedido, assinado pelo delegado Daniel César do Vale, buscava mais tempo para a entrega do relatório parcial da operação.

10 de setembro – novos servidores

  • O governador do Tocantins nomeou Ruivaldo Aires Fontoura como o novo presidente do Itertins. 
  • A juíza Silvana Maria Parfieniuk foi eleita, por unanimidade, como ouvidora regional eleitoral do Tocantins durante a 69ª Sessão Ordinária do TRE-TO. Ela assumiu o cargo em substituição ao desembargador Helvécio de Brito Maia Neto. 

13 de setembro – prisões revogadas

  • O STJ revogou as prisões de Thales André Pereira Maia e do advogado Thiago Sulino de Castro. Ambos estavam presos desde 23 de agosto e foram liberados em 13 de setembro, mas devem usar tornozeleira eletrônica e cumprir medidas cautelares, como a proibição de entrar em unidades do Judiciário e de manter contato com outros investigados. As defesas de ambos afirmaram que trabalharão para comprovar a inocência de seus clientes ao longo do processo.

21 de setembro – intimação de magistrados

  • O STJ intimou desembargadores e juízes do TJTO a prestarem depoimento na investigação sobre suspeita de venda de sentenças, parte da Operação Máximus.  Entre os intimados estavam cinco desembargadores e quatro juízes, incluindo Helvécio de Brito Maia Neto e José Maria Lima, que já foram afastados de seus cargos. As defesas de alguns dos magistrados se manifestaram, com alguns alegando inocência e a oportunidade de esclarecer os fatos. A Corregedoria Geral da Justiça do Tocantins confirmou que está cumprindo a ordem do STJ. O desembargador aposentado José de Moura Filho também estava na lista de intimados, mas faleceu no mesmo mês.

23 de setembro – cargo vago

  • O cargo de corregedor-geral do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ficou vago após a dispensa de Jorge Luiz Lopes Mourão, ocorrida em meio à Operação Máximus. Mourão é suspeito de uso indevido de diárias e passagens e foi acusado de transformar o Incra em uma “agência de viagens”. Durante sua gestão, a ex-superintendente do Incra no Tocantins, Eleusa Maria Gutemberg, passou a ser investigada na operação, suspeita de facilitar processos de regularização fundiária para Thales Maia. Eleusa pediu exoneração em julho de 2024 e é acusada de favorecer um empresário em processos de regularização. O Incra confirmou que o processo de nomeação de um novo corregedor está em andamento, mas não se posicionou sobre as investigações em curso.

30 de setembro – padrinho

Print do inteiro teor do inquérito da Operação Máximus | Foto: PF
  • O Jornal Opção Tocantins publicou uma reportagem sobre a atuação Kledson de Moura Lima, ex-procurador-geral do Tocantins, suspeito de ser um “padrinho” do esquema. A investigação revelou áudios que sugerem a influência de Kledson em nomeações e decisões judiciais, incluindo um relato de Thales André Pereira Maia, que menciona a garantia de Kledson para a permanência de Rafael Parente no comando do Procon Tocantins. 

19 de setembro  – trabalhador do mínimo

  • Até agosto de 2024, magistrados investigados na Operação Máximus haviam R$ 3,1 milhões em salários, com valores brutos variando de R$ 117,5 mil a R$ 152,2 mil, resultando em uma média de R$ 131.220, conforme reportagem do Opção Tocantins. Um trabalhador que ganha salário mínimo (R$ 1.412) precisaria trabalhar cerca de 93 meses, ou aproximadamente 7 anos e 9 meses, para igualar esse valor. Os salários dos magistrados superam o teto do funcionalismo público, que é de R$ 41.650,92, devido a “direitos eventuais” permitidos por lei, como indenização de férias e gratificação natalina antecipada.

03 de outubro – nova mesa diretora

Nova mesa diretora TJTO| Foto: TJTO
  • O TJTO elegeu sua nova mesa diretora para o biênio 2025/2027 em uma sessão realizada no dia 3 de outubro. A desembargadora Maysa Vendramini Rosal foi eleita presidente, enquanto a desembargadora Jacqueline Adorno assumiu a vice-presidência. Também foram escolhidos o desembargador Pedro Nelson como corregedor-geral e Adolfo Amaro como vice-corregedor.
  • A eleição ocorreu em meio a investigações da Operação Máximus. Além da nova mesa diretora, também foram eleitos novos membros para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO), com Marcelo Faccioni como membro titular e Rafael Gonçalves de Paula como substituto.

09 de outubro – suspensão de processos

  • Os advogados Leonardo Maciel e Rodrigo do Vale solicitaram ao CNJ a suspensão do processo de escolha de um novo desembargador para o TJTO, citando possíveis irregularidades. A seleção foi iniciada após a criação de novas vagas no tribunal e é criticada por alegações de interferência da presidente do TJTO, desembargadora Etelvina Sampaio, e de seu genro, Adwardys Vinhal, ambos investigados na Operação Máximus.
  • Os advogados também apontam que, em 2024, ocorrerá a eleição da nova diretoria da OAB Tocantins, e temem que a atual gestão esteja adiando a escolha do desembargador para angariar apoio político para a reeleição do presidente da OAB. Por isso, pedem uma liminar para suspender o processo e sugerem que a escolha seja reiniciada em 2025 sob a gestão da desembargadora Maysa Vendramini Rosal, que não está vinculada à investigação. 

Investigados

  1. Adwardys de Barros Vinhal – advogado
  2. Alexandre Guimarães Bezerra – advogado
  3. Almiro de Faria Junior – advogado
  4. Ângela Issa Haonat – desembargadora
  5. Ângela Maria Ribeiro Prudente – desembargadora e vice-presidente do TJ
  6. Antenor Aguiar Almeida – advogado
  7. Bruno Aquino Monteiro – adminstrador do IOP
  8. Daniel Almeida Vaz – advogado
  9. Eder Ferreira da Silva – assessor de José Maria Lima
  10. Eduardo de Oliveira Bucar – servidor da Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana de Palmas-TO
  11. Eleusa Maria Gutenberg – advogada e ex-superintendente do Incra
  12. Eliane Melhen Marques
  13. Etelvina Maria Sampaio Felipe – desembargadora e presidente do TJTO
  14. Fábio Bezerra de Melo Pereira – advogado
  15. Gerson Silvano de Paiva Filho – advogado
  16. Gustavo Furtado Silbernagel – advogado
  17. Hanoara Martins de Souza Vaz – advogada
  18. Haynner Asevedo da Silva – advogado
  19. João Rigo Guimarães – desembargador e presidente do TRE
  20. Jocione da Silva Moura – advogado
  21. José Alexandre Silva – empresário de mineradora
  22. José Eduardo Sampaio – empresário
  23. José Hermicesar Brilhante Palmeira
  24. José Humberto Pereira Muniz Filho – Procurador do Estado do Tocantins e Controlador Geral do Estado do Tocantins
  25. José de Moura Filho – desembargador
  26. José Maria Lima – juiz
  27. Juliana Bezerra de Melo Pereira Santana – advogada
  28. Kledson de Moura Lima – procurador-geral do Estado
  29. Leandro Freire de Souza – advogado
  30. Lucas Antonio Martins de Freitas Lopes
  31. Luciano Machado Paço – advogado
  32. Marcelo Eliseu Rostirolla – juiz
  33. Marcos Martins Camilo – ex-chefe de gabinete do governador
  34. Marília Rafaela Fregonesi Rodrigues – advogada
  35. Nelson Carlos Villela Marques
  36. Nelson Castro Alves Trad – empresário
  37. Océlio Nobre da Silva – juiz
  38. Onix Farma Produtos Hospitalares Ltda
  39. Paulane Brilhante de Macedo Maia – esposa de Thales
  40. Paulo Alexandre Cornélio de Oliveira Brom – advogado
  41. Paulo de Tarso Daher Filho – empresário
  42. Rafael Pereira Parente – advogado
  43. Rafael Sulino de Castro – assessor da desembargadora Ângela Issa
  44. Raimundo Nonato Sousa Cavalcante Júnior
  45. Renato Jayme da Silva – ex-presidente do Naturatins
  46. Robson Moura Figueiredo Lima – ex-presidente do Itertins
  47. Rodrigo de Menezes dos Santos – advogado
  48. Roniclay Alves de Morais – juiz
  49. Silvio Castro da Silveira
  50. Thales André Pereira Maia – filho do desembargador Helvécio
  51. Tapm Publicidade Ltda – empresa de Thales
  52. Thiago Sulino de Castro – advogado
  53. Wanderlei Barbosa Castro – governador do Tocantins

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